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Medidas mitigatórias são urgentes para alcançar nível zero de emissões líquidas
O ano de 2024 pode ser um dos mais quentes registrados na história, superando as marcas de 2023, alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo a instituição, os eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, incêndios florestais, chuvas fortes e inundações, devem se intensificar em algumas regiões, com impactos significativos. As condições são agravadas pelo fenômeno que já está sendo chamado de “super El Niño”, dada a intensidade de seus efeitos, com previsão para ocorrência até o mês de abril.
2023 já bateu recordes de temperatura devido às ondas de calor. O período também foi marcado por chuvas fortes e inundações na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. No Brasil, ocorreram enchentes na região Sul e seca severa na Amazônia. No segundo semestre, também foram registrados aumentos constantes da temperatura da superfície do mar. Segundo a OMM, esses eventos são reflexos da mudança climática.
As perspectivas do último Relatório Síntese sobre Mudança Climática, divulgado no ano passado e elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), não são animadoras. O documento informa que a superfície global da terra atingiu, no período de 2011-2020, 1,1 grau Celsius a mais que no período 1850–1900. Na primeira metade da próxima década, a temperatura global deve aumentar em 1,5 grau Celsius. Além disso, os pesquisadores alertam que “será muito difícil controlar o aumento da temperatura dentro de 2 graus Celsius até o final do século XXI”, conforme a meta do Acordo de Paris. Com isso, deve ocorrer um agravamento da insegurança alimentar e hídrica, além de mudanças irreversíveis em alguns ecossistemas, com impactos imensuráveis para a biodiversidade e para determinadas populações.
O CEO da certificadora brasileira de créditos de carbono Tero Carbon, Francisco Higuchi, doutor em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais (UFPR/INPA/ FFPRI Japão), lembra que, desde 2020, o relatório do IPCC não cita ser possível reverter a situação, mas apenas mitigar os efeitos da mudança do clima. Ele destaca que, no período da pandemia de COVID-19, foi possível registrar uma redução significativa das emissões dos gases causadores do efeito estufa. Apesar disso, não se constatou uma alteração na tendência de aumento da temperatura da Terra, o que sugere que os efeitos atuais são reflexo das emissões do passado. Por isso, o especialista ressalta que é preciso intensificar os mecanismos que possam salvar a humanidade e nosso modo de vida.
As emissões e os créditos de carbono
Um dos principais gases causadores do efeito estufa e, por consequência, do aquecimento global, é o dióxido de carbono (CO2). Esse gás é produzido, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, por desmatamentos e em erupções vulcânicas. Assim, mitigar os efeitos da mudança climática passa por reduzir o uso desses combustíveis e do desmatamento. “Embora seja necessário reduzir o consumo, a nossa sociedade e o estilo de vida contemporâneo são muito dependentes dessa matriz energética. Uma mudança substancial ainda demandará tempo. Enquanto essa transição para fontes renováveis ocorre, é necessário adotar outras medidas”, destacou o CEO da Tero Carbon.
É diante desse cenário que o mercado de créditos de carbono é apontado como uma importante via para se alcançar o nível de emissões líquidas zero até 2050. Isso significa que, nas situações onde não é possível evitar ou reduzir as emissões de carbono, elas devem ser compensadas pelo sequestro ou redução do carbono realizados por projetos certificados com esse fim. Cada crédito de carbono representa uma tonelada de gases de efeito estufa equivalente que foi evitada de ser emitida ou foi capturada da atmosfera.
No Brasil, ainda não existe uma regulamentação desse mercado, embora já tramite no poder legislativo um projeto de lei com esse objetivo. Hoje, as transações são realizadas no mercado voluntário, em que as partes promovem as negociações livremente, geralmente seguindo regramentos que já existem em outras partes do mundo. A previsão é que o mercado de créditos de carbono avance nos próximos anos, com o surgimento de novos atores, de forma a contribuir consistentemente com a mitigação dos efeitos da mudança do clima.
Higuchi destaca que a própria Tero Carbon foi criada com a intenção de popularizar o mercado. “Nossa ideia é abrir espaço para toda e qualquer propriedade que possua florestas, para que contribuam com a mitigação dos efeitos da mudança do clima”, disse. A empresa é a primeira certificadora brasileira de créditos de carbono a verificar um projeto com metodologia 100% nacional. A Tero Carbon realiza certificações em propriedade com área a partir de cinco hectares e utilizando uma plataforma digital, o que confere agilidade e confiabilidade ao processo de emissão de créditos de carbono.
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