O banco Santander revelou em relatório recente que investidores estrangeiros estão demonstrando sinais de “fadiga” em relação ao mercado acionário brasileiro. O documento, assinado pela chefe de estratégia Aline Cardoso, atribui o desânimo ao que chamou de “ruído macroeconômico” e à demora na implementação de medidas fiscais robustas.
Investidores avaliam Brasil como arriscado e estagnado
Segundo Cardoso, após encontros com investidores em Londres e no Oriente Médio, a percepção predominante é de que há “muito ruído para pouco ganho” no cenário brasileiro. Apesar de parte dos investidores classificados como long-only – aqueles com estratégias de longo prazo – manterem uma postura “neutra a levemente overweight” em relação ao Brasil, a maioria opta pela cautela.
De acordo com o relatório, um pacote fiscal crível é considerado fundamental para estabilizar o mercado, mas não foi suficiente para reverter a falta de entusiasmo. “O sentimento geral entre os investidores com quem conversamos é de que o Brasil precisa apresentar mais ações concretas para justificar uma reavaliação de suas alocações. Sem isso, há pouca disposição para aumentar a exposição ao país”, apontou o relatório.
Indicadores econômicos e setores Sob Risco
A hesitação dos investidores também está ligada a preocupações com o impacto das medidas econômicas nos setores de consumo de baixa renda, bancos e varejo. Esses segmentos são vistos como altamente vulneráveis a mudanças fiscais e ao aumento da taxa de juros, que em setembro atingiu 13,75% ao ano, um dos níveis mais altos entre economias emergentes.
Dados recentes do IBGE mostram que o consumo das famílias, um dos motores da economia brasileira, desacelerou 1,2% no último trimestre. O setor de varejo, por sua vez, registrou queda de 0,6% nas vendas em setembro, marcando o segundo mês consecutivo de retração.
“O mercado brasileiro precisa enfrentar uma combinação de desafios macroeconômicos e setoriais, o que reduz a atratividade para os investidores estrangeiros, principalmente em um momento de maior competição por recursos no mercado global”.
Expectativas de curto e longo prazo
Para os investidores que permanecem no Brasil, a expectativa é de uma melhora no médio e longo prazo, desde que o governo consiga apresentar resultados concretos na agenda de controle fiscal. O pacote de cortes de gastos, amplamente aguardado, tem sido adiado, gerando mais incertezas.
Estima-se que as reformas poderiam liberar até R$ 150 bilhões em recursos nos próximos três anos, mas a falta de clareza sobre os prazos e a efetividade das medidas gera desconfiança. “Sem um pacote fiscal que inspire confiança, o Brasil continuará enfrentando dificuldades para atrair capital estrangeiro em volume significativo”, afirmou Cardoso.
Tendências no cenário global
No contexto internacional, a preferência dos investidores tem migrado para mercados considerados mais estáveis, como os Estados Unidos, que oferecem taxas de juros competitivas sem os riscos políticos e econômicos observados no Brasil. Segundo o Banco Central, os fluxos de investimento estrangeiro para a Bolsa brasileira caíram 18% entre agosto e outubro, totalizando US$ 9 bilhões no período.
Além disso, as tensões geopolíticas no Oriente Médio e a desaceleração econômica da China, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, reforçam a busca por ativos mais seguros. “O cenário global exige que mercados emergentes sejam mais atraentes do ponto de vista de retorno e estabilidade, algo que o Brasil ainda não conseguiu oferecer”, destacou o relatório.
Perspectiva Final
Especialistas apontam que o governo brasileiro precisa agir rapidamente para recuperar a confiança dos investidores estrangeiros. A combinação de juros altos, instabilidade fiscal e ausência de reformas estruturais coloca o Brasil em desvantagem competitiva em relação a outros emergentes.
“O Brasil tem potencial, mas precisa de mais disciplina fiscal e estabilidade macroeconômica para se tornar novamente uma escolha interessante para investidores globais”, concluiu Cardoso.