
- BB lucra R$ 7,4 bi no 1T25, 20% abaixo do 1T24, e abaixo do consenso de R$ 9 bi
- Banco revisa metas de lucro, margem e custo de crédito, aumentando a incerteza
- Alta inadimplência no agronegócio e mudanças nas regras de provisão afetam severamente os resultados
O Banco do Brasil frustrou as expectativas dos investidores ao divulgar, na noite desta quinta-feira, um resultado fraco no primeiro trimestre de 2025. O lucro líquido do banco estatal caiu para R$ 7,4 bilhões, representando uma retração de 20% em relação ao mesmo período de 2024 e de 23% na comparação com o último trimestre. O número ficou bem abaixo da média projetada pelo mercado, que esperava cerca de R$ 9 bilhões.
O tombo veio acompanhado de um ROE (retorno sobre patrimônio) em queda acentuada, de 21,7% para 16,7% em um ano — uma redução de 5 pontos percentuais. Além disso, o BB suspendeu o guidance de lucro para 2025, que havia sido anunciado há apenas três meses, surpreendendo negativamente os investidores e analistas.
“Os resultados foram mais fracos que o esperado em quase todas as linhas, com destaque para a queda de 11% na margem financeira líquida (NII), o principal culpado”, avaliou o Itaú BBA.
O banco ressaltou que o lucro teria sido ainda menor não fosse a carga tributária reduzida no trimestre — o BB pagou apenas 4% de imposto de renda, contra 16% no trimestre anterior.
Crise no agro se agrava e abala o balanço
Boa parte da deterioração vem da exposição elevada do BB ao agronegócio, setor que enfrenta uma série de recuperações judiciais e dificuldades na safra 2023/2024. Segundo o banco, a inadimplência dessa carteira chegou a 3,04% no trimestre, e as perspectivas de melhoria foram novamente adiadas.
“Eles sempre dizem que os próximos dois trimestres serão melhores, mas esses trimestres nunca chegam”, disparou um analista do setor bancário.
A frustração cresceu após o banco admitir que, mesmo com safra recorde esperada para 2025, ainda carrega um “estoque de operações problemáticas” da safra passada.
Para piorar, o BB também sentiu os efeitos da Resolução CMN 4.966/2021, que obriga os bancos a contabilizarem provisões com base na perda esperada. E, no entanto, não mais com base nas perdas efetivas.
A nova regra também restringe o reconhecimento de receita em renegociações de crédito, prejudicando diretamente o balanço do banco. Sobretudo porque o BB não havia adotado uma abordagem conservadora anteriormente, ao contrário de seus pares privados.
Guidance suspenso eleva incertezas e pode afundar BBAS3
O Banco do Brasil não apenas entregou um resultado muito aquém do esperado, como também reviu para baixo suas metas para 2025. Dessa forma, incluindo a projeção de lucro líquido ajustado, a margem financeira bruta e o custo de crédito.
O guidance anterior indicava um lucro anual entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões, mas após o fraco desempenho do 1T25, a instituição não deu nova estimativa e disse estar em “revisão interna”.
A suspensão pegou o mercado de surpresa. Para analistas, o movimento sinaliza que o próprio banco foi surpreendido pela deterioração rápida dos números, especialmente na carteira agrícola.
A perspectiva é de que as ações do BB (BBAS3) sofram perdas entre 10% e 15% no pregão desta sexta-feira, embora parte do impacto já esteja precificada. O papel vem apresentando desempenho inferior ao dos concorrentes: enquanto Itaú e Bradesco acumulam alta de 35% no ano, o BB sobe apenas 23%.
Mesmo assim, o banco ainda negocia a um múltiplo considerado barato: cerca de 4 vezes o lucro projetado para o ano, o que atrai parte dos investidores de valor. O valor de mercado atual do BB é de R$ 168 bilhões, e o risco é que o desconto frente aos pares aumente ainda mais.