- A moeda norte-americana disparou para o maior valor desde o Plano Real, impulsionada pela incerteza fiscal no Brasil
- O mercado teme a falta de avanço nas medidas de contenção de gastos do governo e a ausência de Lula nas negociações no Congresso
- O BC vendeu US$ 4,6 bilhões em dois leilões, mas a alta do dólar persistiu, refletindo o cenário volátil e incerto
- O mercado aguarda a divulgação da ata do Copom e possíveis ações do governo e do BC para conter a pressão sobre o câmbio
O dólar comercial disparou nesta segunda-feira (16), alcançando R$ 6,15, o maior valor desde a criação do Plano Real. A alta da moeda norte-americana ocorre em meio a temores do mercado sobre a saúde fiscal do Brasil, com os elevados prêmios de risco e a incerteza política superando o impacto das intervenções do Banco Central. Mesmo com a venda de mais de US$ 4,6 bilhões pelo BC em leilões de câmbio, a cotação do dólar não conseguiu ser contida, marcando a cotação máxima histórica.
Intervenções do Banco Central não conseguem barrar a alta do dólar
Desde o início da manhã, investidores reagiram de forma intensiva às incertezas fiscais, e o dólar ultrapassou rapidamente a barreira de R$ 6,09, marcando uma alta de 1% já nas primeiras horas de negociação.
A principal preocupação era o atraso na aprovação das medidas fiscais do governo no Congresso Nacional, com os parlamentares entrando na última semana de trabalho antes do recesso de fim de ano. A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontra em São Paulo se recuperando de uma cirurgia, também aumentava os receios quanto ao avanço do pacote fiscal.
De acordo com Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, a apreensão sobre a aprovação do Orçamento e as mudanças no pacote fiscal aumentavam a volatilidade no mercado cambial. Apesar disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o presidente Lula para tentar alinhar a continuidade das propostas do governo e evitar que as medidas perdessem força.
Leilões do Banco Central tentam conter a volatilidade
Durante a manhã, o Banco Central realizou dois leilões de venda de dólares à vista, totalizando US$ 4,6 bilhões em um esforço para estabilizar o mercado. O primeiro leilão, realizado por volta das 10h, ofereceu mais de US$ 1,6 bilhão, o maior valor desde março de 2020. Essa intervenção teve um efeito temporário, com o dólar recuando para R$ 6,03 por alguns minutos. No entanto, a moeda brasileira não resistiu à pressão e voltou a subir, alcançando R$ 6,15 no final do dia.
Além disso, o BC também vendeu US$ 3 bilhões em um leilão de linha (dólares com compromisso de recompra), o que reforçou a intervenção. Essas operações de venda de dólares são uma forma de fornecer liquidez ao mercado e evitar uma desvalorização abrupta do real, mas não conseguiram mudar a trajetória de alta do dólar, que se manteve firme ao longo do dia.
Expectativa por novas ações do governo e do BC
O movimento de alta do dólar reflete um cenário econômico difícil e volátil. O mercado continua apreensivo com a falta de um consenso em torno das medidas fiscais do governo. Além das altas taxas de juros, que já ultrapassam os 12% ao ano, afastam investidores estrangeiros.
A situação ficou ainda mais tensa após o presidente Lula criticar publicamente a condução da política monetária, chamando a alta da taxa Selic de “errada”. A reação negativa à política monetária é vista como um dos fatores que contribui para a fuga de capital.
Com a proximidade das festas de fim de ano, as atenções se voltam para os próximos passos do governo e do Banco Central. A ata da última reunião do Copom, que será divulgada nesta terça-feira, pode oferecer pistas sobre os próximos movimentos da autoridade monetária. No cenário internacional, os mercados aguardam a decisão do Federal Reserve. No entanto, que deverá reduzir os juros americanos, o que pode impactar o fluxo de capitais para o Brasil.
Conclusão
O dólar atingiu um novo recorde histórico nesta segunda-feira, com a cotação de R$ 6,15. Contudo, refletindo os temores do mercado sobre a saúde fiscal do país e a continuidade das medidas de contenção de gastos. As intervenções do Banco Central, que venderam mais de US$ 4,6 bilhões em leilões, tiveram efeito pontual. Mas não impediram o avanço da moeda americana.
Com um cenário ainda incerto, o mercado continua atento às ações do governo e do BC para tentar controlar a volatilidade cambial.