Tempos de crise

Não é mais seguro investir em dólar? Entenda

Desconfiança crescente entre investidores, temores fiscais e incertezas com o governo Trump ameaçam o status do dólar.

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  • Confiança no dólar entra em colapso, com mais da metade dos analistas preocupados com seu status de ativo seguro
  • Política fiscal instável, queda do PIB e pressão sobre o Fed alimentam o pessimismo
  • Dólar já perdeu 9% desde o retorno de Trump, e a tendência é de novas quedas nos próximos meses

A confiança global no dólar americano, tradicionalmente visto como o principal ativo seguro em tempos de crise, vem se deteriorando rapidamente. De acordo com uma pesquisa da Reuters com 83 estrategistas de câmbio, mais da metade (55%) dos entrevistados expressaram preocupação com a estabilidade da moeda dos Estados Unidos, contudo, um salto expressivo em relação à pesquisa de abril.

Os temores se concentram no cenário fiscal instável, nas reviravoltas políticas sob a gestão de Donald Trump e no risco crescente de perda de independência do Federal Reserve (Fed).

Desde o retorno de Trump à Casa Branca, o dólar já recuou cerca de 9% frente a uma cesta das principais moedas globais. A postura errática do presidente em relação às tarifas e acordos comerciais alimenta incertezas e tem corroído a credibilidade da moeda norte-americana.

Uma trégua de 90 dias nas tarifas recíprocas, anunciada recentemente, teve pouco impacto positivo, e os investidores seguem receosos quanto à trajetória econômica do país.

“É como trair a confiança de um amigo. Mesmo que você diga que não foi sério, ele nunca esquece”, afirmou Steve Englander, chefe de câmbio do G10 no Standard Chartered.

“É assim que o dólar está sendo visto hoje.”

Perda de confiança e ausência de alternativa clara

Apesar da deterioração da confiança, a maioria dos analistas reconhece que ainda não existe uma alternativa sólida ao dólar como principal moeda de reserva global. O euro, por exemplo, se valorizou e atingiu US$1,13 em abril, seu maior valor em mais de três anos.

No entanto, os analistas não esperam grandes avanços até julho. A previsão é de que a moeda europeia alcance US$1,14 em seis meses e US$1,16 em 12 meses.

A instabilidade fiscal dos Estados Unidos pesa sobre a moeda. Segundo Englander, os mercados passaram a olhar com mais atenção para a trajetória fiscal de longo prazo, deixando em segundo plano os estímulos imediatos.

A contração do PIB americano no último trimestre (a primeira em três anos) agravou o sentimento negativo. O encolhimento foi provocado por uma onda de importações antecipadas, enquanto empresas tentavam se proteger de tarifas mais altas.

Juros, Fed e as pressões políticas de Trump

A expectativa do mercado é de que o Federal Reserve corte os juros três vezes até o final do ano, mas o banco central vem resistindo à pressão. A postura firme das autoridades monetárias contrasta com os apelos repetidos de Trump por juros mais baixos.

O presidente chegou a chamar Jerome Powell, presidente do Fed, de “completo rígido”, mas garantiu que não pretende removê-lo do cargo antes do fim de seu mandato, em 2026.

Para muitos especialistas, o fator mais delicado nessa equação é a independência do Fed.

“Se houver qualquer sinal de que o banco central está cedendo à pressão política, isso comprometerá seriamente a posição do dólar como ativo seguro global”, alertou Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.

Erik Nelson, estrategista macro da Wells Fargo, compartilha a mesma visão pessimista:

“A combinação de dados fracos da economia americana, o início dos cortes de juros e as dúvidas sobre a autonomia do Fed devem pressionar ainda mais o dólar na segunda metade do ano.”

Enquanto isso, os mercados seguem atentos. Qualquer novo ruído vindo da Casa Branca ou sinal de enfraquecimento da política monetária independente dos EUA pode acelerar a queda do dólar, gerando impactos globais.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.