Cautela recomendada

O fim dos CRIs e CRAs? Entenda o risco que pode acabar com esses investimentos

Investidores repensam alocação em papéis isentos após compressão dos spreads e ameaça de tributação.

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Investidores acreditam que mercado esta bolhado
  • O prêmio adicional dos CRIs e CRAs em relação ao Tesouro IPCA+ caiu para cerca de 30 bps, tornando esses papéis menos atrativos frente ao risco assumido.
  • Proposta no Congresso prevê taxação de 5% sobre os rendimentos desses títulos a partir de 2026, o que pode reduzir ainda mais sua rentabilidade líquida.
  • Com prêmios baixos e incertezas fiscais, investimentos como o Tesouro IPCA+ 2040 surgem como alternativas mais seguras e líquidas.

Os tempos mudaram para os investidores que apostavam em CRIs e CRAs. Após anos em que esses papéis brilharam pela isenção fiscal e bons retornos, o cenário atual exige muito mais cautela. Sendo assim, dados do mercado mostram que os spreads de crédito — o adicional de retorno em relação aos títulos públicos — despencaram nos últimos meses.

Além disso, o gráfico da JGP mostra com clareza esse movimento: o prêmio oferecido por esses títulos, que chegou a ultrapassar os 200 pontos-base em 2023, encolheu para cerca de 30 pontos. Ou seja, o investidor está aceitando quase o mesmo retorno de papéis muito mais arriscados, o que levanta alertas.

E o risco não para por aí. Uma proposta no Congresso Nacional pretende criar uma alíquota de 5% sobre os rendimentos desses produtos a partir de 2026, reduzindo a principal vantagem desses investimentos — a isenção de Imposto de Renda.

Menos prêmio, mais risco

Ao investir em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) ou CRAs (do Agronegócio), o investidor está financiando empresas com base em fluxos futuros de pagamento. Esses papéis não têm cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) e envolvem riscos estruturais e setoriais.

Por isso, o retorno deveria ser compensador. Porém, com o atual fechamento dos spreads, o retorno adicional mal justifica o risco. O gráfico aponta essa mudança estrutural: o spread de carrego ponderado, que deveria embutir esse prêmio, sofreu forte compressão ao longo de 2024 e já sinaliza nova queda em 2025.

Desse modo, com a possível tributação no radar e os prêmios apertados, especialistas alertam que a atratividade desses produtos caiu consideravelmente. Em muitos casos, o retorno líquido pode ser inferior a alternativas mais seguras e líquidas, como o Tesouro Direto.

Corrida por isenção pode piorar cenário

Caso a tributação avance no Congresso, muitos investidores podem correr para adquirir CRIs e CRAs ainda em 2025, tentando garantir os benefícios fiscais. Esse movimento, no entanto, tende a inflar a demanda e comprimir ainda mais os spreads.

Mesmo com a proposta prevendo uma alíquota “leve” de 5%, o impacto será direto na rentabilidade líquida desses títulos. A pressão sobre os emissores aumentaria, já que eles precisariam oferecer taxas maiores para compensar a nova carga tributária — o que pode não ser viável em muitos casos.

Além disso, o cenário político é incerto. Apesar da proposta, há resistência no Congresso a medidas de aumento de arrecadação. A rejeição recente ao decreto do IOF indica que nem toda tributação avançará facilmente. Mesmo assim, o risco está posto.

Tesouro IPCA+ ganha destaque entre alternativas

Diante desse novo quadro, muitos analistas têm recomendado alocar parte relevante da carteira de renda fixa em títulos públicos de longo prazo. O Tesouro IPCA+ 2040, por exemplo, oferece proteção contra inflação, liquidez diária e risco soberano — tudo isso sem abrir mão de rentabilidade.

Nesse momento, a isenção de IR dos CRIs e CRAs não é mais suficiente para justificar o risco. O investidor deve ser mais criterioso e evitar alocações automáticas nesses papéis, buscando sempre o equilíbrio entre segurança, retorno e liquidez.

Em suma, a lição é clara: o cenário mudou, e a estratégia também precisa mudar. Portanto, a era dos CRIs e CRAs como “queridinhos” da renda fixa pode estar chegando ao fim.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.