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Receita admite risco de bloquear até R$ 1,4 bilhão de investidores na Carbono Oculto

Operação expõe infiltração do PCC em fundos e gera temor no mercado financeiro.

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  • A Receita identificou fundos abertos com aportes do PCC e alertou que pode bloquear até R$ 1,4 bilhão.
  • A operação Carbono Oculto cercou a Faria Lima e já bloqueou 21 fundos fechados ligados ao esquema criminoso
  • Autoridades reconheceram riscos aos investidores, mas reforçaram que a ação busca punir o crime organizado e não o mercado formal

Nesta quinta-feira (28), a Receita Federal alertou que pode bloquear valores de investidores honestos durante os desdobramentos da operação Carbono Oculto, que investiga fraudes e lavagem de dinheiro do PCC no setor de combustíveis. O montante em risco pode chegar a R$ 1,4 bilhão.

Segundo a superintendente da Receita em São Paulo, Márcia Meng, há cautelares fiscais já deferidas e, mesmo com foco em punir o crime organizado, a separação completa entre recursos ilícitos e aportes legítimos nem sempre é simples.

A ameaça aos fundos

Durante coletiva de imprensa, Meng explicou que identificaram fundos abertos de ações, imobiliários e multimercados com aportes ligados ao PCC. No total, 42 fundos fraudulentos foram mapeados, dos quais 21 fechados já tiveram bloqueios efetivos.

A Receita destacou que não pretende punir investidores comuns, mas reconheceu o risco de atingir valores de cotistas regulares. “Podemos bloquear o dinheiro de quem está dentro desses fundos, inclusive, o do cidadão honesto”, afirmou Meng.

Esse alerta eleva a tensão entre investidores, uma vez que fundos abertos, populares no mercado, podem ser impactados pela medida. A mensagem busca evitar pânico, mas não elimina a incerteza sobre possíveis perdas temporárias de recursos.

Como o crime atuava

A Receita detalhou que o esquema funcionava com a entrada de dinheiro vivo em bancos ou pela venda de combustíveis, utilizando máquinas de cartão. Em seguida, os criminosos adquiriam cotas de fundos, transformando dinheiro ilícito em ganhos formais.

Além disso, o uso dos fundos como canal de lavagem permitia ao PCC dar aparência de legalidade às receitas do tráfico e ampliar a rentabilidade. Esse modus operandi reforça os desafios da fiscalização no sistema financeiro e evidencia a vulnerabilidade diante de brechas regulatórias.

Portanto, a operação Carbono Oculto, que reuniu PF, PM, Gaeco e Receita, cercou a região da Faria Lima em São Paulo, maior centro financeiro do País, na maior ofensiva já realizada contra a infiltração do crime organizado no mercado formal.

Reguladores pressionados

Robinson Sakiyama Barreirinhas, secretário especial da Receita, afirmou que a investigação aponta para a necessidade de maior vigilância sobre fintechs e fundos de investimentos. Segundo ele, o Brasil ainda pode ser percebido como “paraíso fiscal” diante de lacunas regulatórias.

Ademais, o secretário relembrou que tentativas de equiparar a supervisão das fintechs à dos bancos esbarraram em boatos sobre taxação do Pix, o que retardou mudanças. Apesar da gravidade, buscou tranquilizar o mercado: “Estamos realizando uma supervisão sistemática sobre os possíveis bloqueios. O investidor não deve se preocupar: a operação está sendo conduzida com cautela”.

Por fim, a fala tenta conter o risco de fuga de capitais e preservar a confiança no setor, mas os próximos desdobramentos da operação devem manter o mercado em alerta.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.