
- CDBs do Banco Master chegam a 190% do CDI em meio a forte incerteza.
- Especialistas alertam que risco de liquidação pode comprometer pagamentos.
- Investimento só faz sentido dentro do limite de R$ 250 mil coberto pelo FGC.
Os CDBs do Banco Master voltaram a chamar a atenção dos investidores após uma nova disparada de taxas no mercado secundário. Ontem, os papéis com vencimento em janeiro de 2026 chegaram a oferecer 190% do CDI ao ano na plataforma da XP Investimentos, o maior nível já registrado.
A rentabilidade incomum reflete não apenas o apetite de quem busca retornos agressivos, mas também a desconfiança em torno da saúde financeira da instituição. Segundo especialistas, os riscos podem superar o atrativo de ganhos elevados.
Taxas fora da curva
A disparada atual acontece apenas duas semanas após os CDBs do Master saltarem de uma média de 120% a 130% para 177% do CDI. A dificuldade de investidores em revender os papéis no mercado secundário agravou o cenário e levou a XP a suspender a liquidez temporariamente.
Em alguns casos, títulos de vencimento mais curto chegaram a oferecer retornos superiores aos de longo prazo, algo incomum no mercado de renda fixa. Isso sinaliza que investidores estariam dispostos a abrir mão de prêmio adicional no futuro apenas para se desfazer rapidamente dos ativos.
Segundo fontes de mercado, essa distorção mostra que a incerteza de curto prazo pesa mais que o horizonte de longo prazo, onde se espera que a situação do Master já esteja resolvida.
Vale a pena o risco?
Analistas consideram os CDBs do Master de alto risco, com pontuação de 51 em uma escala de 0 a 100, acima da média dos títulos de crédito privado de alto retorno. A indefinição sobre o futuro do banco, especialmente após o Banco Central vetar a venda da instituição ao BRB, pressiona ainda mais os preços.
O professor Rafael Schiozer (FGV-EAESP) alerta que, caso o BC decida liquidar o banco de Daniel Vorcaro, os CDBs perderiam a validade contratual e a rentabilidade prometida poderia não ser paga. Isso expõe os investidores a um risco adicional, mesmo que o retorno no papel pareça atrativo.
Por isso, a recomendação é que esses ativos só entrem em carteiras de quem pode tolerar perdas ou esteja limitado ao teto de cobertura do FGC.
A proteção do FGC e o futuro do Master
As regras do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) asseguram até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em caso de liquidação da instituição financeira. Especialistas acreditam que muitos investidores expostos aos papéis já extrapolaram esse limite, o que amplia a pressão para se desfazerem deles.
Segundo o professor Alex Nery (FIA), o cenário mais positivo seria a aquisição do Master por outro banco, que daria liquidez e fôlego às emissões. Nesse caso, o pagamento das altas taxas seria viabilizado.
No entanto, sem ofertas concretas de compra desde a negativa do BC, os papéis continuam a carregar um risco elevado. Para Nery, esses CDBs não devem ser usados como reserva de emergência, ainda que contem com a proteção parcial do FGC.