
- Setor de terras raras promete alta demanda, mas exige paciência e gestão de risco.
- Brasil tem 23% das reservas globais e pode atrair bilhões com regulação adequada.
- Empiricus recomenda menos de 5% da carteira em ETFs e foco em longo prazo.
A corrida mundial por terras raras está movimentando mineradoras, governos e investidores em busca do que pode ser o “investimento da década”. Esses elementos químicos são essenciais para a produção de baterias, turbinas e veículos elétricos, mas também representam um mercado de alto risco e baixa previsibilidade.
Segundo especialistas, o interesse crescente no setor vem acompanhado de forte disputa geopolítica e desafios regulatórios. Para o investidor pessoa física, o alerta é claro: há potencial, mas também muitas armadilhas no caminho até o lucro.
Setor estratégico e dominado pela China
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos usados em tecnologias de ponta, como telas LED, ímãs industriais, smartphones e motores elétricos. Embora o Brasil detenha 23% das reservas globais, a China controla 69% da produção e 48% das reservas, segundo relatório do UBS Global Wealth Management.
Desde o governo Trump, a disputa por esses minerais se intensificou, consolidando o poder de barganha chinês. O país asiático chegou a restringir exportações estratégicas, o que paralisou fábricas de carros elétricos e painéis solares em diversos países. Isso elevou ainda mais a dependência global e o peso da China nesse mercado.
O Brasil, por sua vez, surge como um jogador promissor, com potencial para atrair capital estrangeiro e ampliar sua exploração. Projetos em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Amazonas indicam o início de uma corrida nacional para ocupar espaço no mapa global das terras raras.
Brasil pode se tornar protagonista
De acordo com a economista Solange Srour, do UBS, o país possui condições únicas de explorar e refinar esses minerais. A demanda global deve crescer 60% nos próximos 15 anos, alcançando 150 mil toneladas anuais, ritmo muito acima da oferta projetada.
Se mantiver o atual ritmo de investimento, o setor pode acrescentar R$ 47 bilhões ao PIB até 2050 e até R$ 233 bilhões caso o Brasil avance no beneficiamento e refino local. Contudo, tudo dependerá da regulação do setor e da entrada de capital externo, pontos ainda sensíveis.
Srour ressalta que o sucesso exigirá equilíbrio diplomático: “O Brasil pode atender os dois lados sem prejudicar as relações globais, colhendo benefícios de ambos”, diz.
Onde estão as oportunidades e os riscos
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam que as empresas brasileiras listadas em bolsa, como a Vale (VALE3), não estão diretamente expostas ao boom das terras raras. No exterior, predominam “nanocaps”, companhias pequenas, com alta volatilidade e liquidez limitada.
De acordo com Enzo Pacheco, analista da Empiricus, grande parte dos projetos no Brasil ainda é incipiente e conduzida por empresas estrangeiras, o que limita o acesso direto para investidores locais. Assim, quem quiser se expor precisa buscar ETFs ou ações internacionais.
As mineradoras canadenses, australianas e americanas lideram o setor, enquanto a China domina o refino. Essa concentração dá ao país poder para manipular preços, derrubando concorrentes quando aumenta a oferta e reduzindo margens de lucro de rivais.
MP Materials e o jogo dos gigantes
Nos Estados Unidos, a MP Materials (M2PM34) é o principal nome do setor. A companhia recebeu apoio do governo Trump e da Apple, em troca de garantir fornecimento estratégico de insumos. Mesmo com incentivo estatal, a empresa é considerada altamente especulativa, segundo Pacheco.
O analista explica que o mercado ainda é imprevisível: diferentemente do petróleo, as minas de terras raras levam décadas para se tornarem produtivas. Além disso, os custos de exploração e o risco de queda de preços pela China tornam a operação instável.
Ainda assim, o banco Jefferies elevou o preço-alvo da MP Materials de US$ 85 para US$ 90, destacando melhorias de eficiência e aumento gradual da produção, que pode atingir 10 mil toneladas anuais até 2028. Segundo o relatório, a demanda por Neodímio e Praseodímio (NdPr) deve crescer cinco vezes na próxima década.
Vale investir?
Mesmo com o potencial de valorização, a recomendação é cautela máxima. A Empiricus orienta que menos de 5% da carteira internacional seja destinada a ETFs do setor e menos de 1% em ações individuais, devido ao alto risco e baixa liquidez.
Entre os principais ETFs, destacam-se o REMX (VanEck Rare Earth/Strategic Metals), com forte presença chinesa, e o SETM (Sprott Critical Materials), que investe também em lítio, cobre e urânio. Eles oferecem diversificação global e reduzem o impacto de eventuais perdas.
Pacheco reforça que o segredo está em pensar no longo prazo e manter disciplina: “Esse é um mercado para quem quer comprar o futuro, e não resultados imediatos”, conclui o analista.