Financiamento estatal

Porque o Brasil está atraindo tantas mineradoras em busca de "terras raras"?

Empresas como Aclara, Viridis e Meteoric correm para viabilizar projetos e reduzir dependência global da China.

Crédito: Depositphotos
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  • O Brasil pode atrair até US$ 1 bilhão do BNDES para viabilizar projetos de terras raras, com lista de selecionados prevista para 12 de junho.
  • Mineradoras como Aclara e Viridis disputam apoio e buscam integrar cadeias produtivas com países ocidentais.
  • Desafios incluem a falta de infraestrutura de refino, riscos de mercado e a necessidade de incentivos estatais para atrair capital privado.

O Brasil, dono da segunda maior reserva mundial de terras raras, está no centro de uma corrida estratégica por parte de mineradoras que visam captar até US$ 1 bilhão em financiamento estatal. A lista com os projetos estratégicos selecionados para apoio do BNDES e da Finep será divulgada nesta quinta-feira (12), acirrando a disputa entre empresas que esperam transformar promessas em realidade diante da crescente demanda global.

A nova etapa do programa é vista como decisiva para tirar do papel projetos avaliados em US$ 15 bilhões. Segundo autoridades, grande parte das 124 propostas analisadas envolve o setor de terras raras, um grupo de minerais essenciais para indústrias de alta tecnologia, como a de carros elétricos, turbinas eólicas e defesa.

Reação à dependência da China reacende demanda

A China, que domina o fornecimento global de terras raras, vem restringindo exportações e utilizando sua posição como ferramenta de pressão geopolítica. Com isso, governos ocidentais intensificaram a busca por fontes alternativas seguras, ampliando as chances para países como o Brasil.

“O mundo percebeu que não pode depender de um só país”, declarou José Luis Gordon, diretor do BNDES. O banco, além de oferecer recursos próprios, planeja atrair fundos internacionais, como a Agência de Cooperação Internacional do Japão. A condição, no entanto, é que os projetos envolvam também etapas de refino – uma das áreas mais críticas da cadeia produtiva.

Hoje, a única produtora ativa no Brasil é o Grupo Serra Verde, que vende principalmente para compradores chineses. Ainda assim, o país possui 23% das reservas globais, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Essa combinação de potencial e oportunidade geopolítica atrai empresas internacionais como a chilena Aclara Resources, a australiana Viridis Mining and Minerals e a Meteoric Resources.

Propostas enfrentam desafios estruturais e históricos

Apesar da expectativa positiva, o setor de terras raras carrega um histórico de instabilidade. Na década de 2010, empresas como a Molycorp e a Lynas atraíram capital com promessas similares, mas os preços despencaram diante do excesso de oferta e da substituição por alternativas mais baratas.

Além disso, o maior gargalo ainda não está na extração, e sim no processamento. A China concentra quase todo o refino global e, fora dela, os projetos ainda buscam alcançar escala, padronização e preços viáveis. “Os preços teriam que dobrar para garantir a oferta fora da China”, afirma Johann Schimd, da consultoria Wood Mackenzie.

Desse modo, ele ressalta que o risco percebido pelos investidores continua alto. Por isso, o Estado brasileiro oferece incentivos que muitos consideram essenciais para atrair capital privado e internacional.

Projetos miram exportação e cadeias integradas

Para driblar o risco e garantir mercado, os potenciais produtores brasileiros têm apostado em cadeias produtivas integradas com países ocidentais. A Aclara, por exemplo, quer minerar e processar terras raras no Brasil para abastecer uma fábrica de ímãs na Carolina do Sul, nos Estados Unidos.

Já a Viridis negocia com bancos estatais de ao menos sete países, incluindo EUA, Japão, Alemanha e Coreia do Sul. O objetivo, segundo Klaus Petersen, diretor da empresa no Brasil, é diversificar tanto o financiamento quanto os clientes. “Toda a cadeia industrial ainda precisa ser estruturada”, afirma.

Portanto, as empresas apostam que a crescente tensão comercial envolvendo a China vai se traduzir em maior apoio financeiro dos países ocidentais. Além disso, buscam atender às exigências ambientais com processos de menor impacto, estratégia que pode pesar positivamente na escolha dos projetos que receberão apoio do BNDES.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.