
- Ações da RD Saúde caem quase 15% após resultados trimestrais abaixo do esperado, marcando a maior queda diária desde 2007.
- Vendas em mesmas lojas cresceram apenas 3,4%, e lucro líquido ajustado caiu 15,2%, ficando 30% abaixo das projeções.
- Analistas destacam desafios operacionais e aumento da concorrência como fatores de preocupação para os próximos trimestres.
As ações da RD Saúde desabaram quase 15% após resultados considerados fracos no 1º trimestre de 2025. Mais do que números decepcionantes, o mercado enxergou sinais preocupantes sobre a operação e o futuro da gigante farmacêutica, que agora encara um cenário de forte concorrência, margens pressionadas e necessidade urgente de reinventar sua estratégia.
Sentimento de frustração domina o mercado
Na última terça-feira (6), investidores da RD Saúde acordaram com uma surpresa amarga. As ações da companhia despencaram 14,9% após a divulgação do balanço do primeiro trimestre. O tombo representou a maior queda diária desde a abertura de capital da Drogasil em 2007, e o motivo foi claro: o mercado não engoliu os resultados.
Apesar de um avanço de 10,8% na receita bruta — totalizando R$ 10,8 bilhões —, o desempenho geral ficou aquém das expectativas. O grande problema foi a fraca performance das vendas em mesmas lojas, que cresceram apenas 3,4%. Para efeito de comparação, a concorrente Pague Menos alcançou 17% na mesma métrica.
Ainda mais preocupante, o lucro líquido ajustado caiu 15,2% em relação ao mesmo período de 2024, atingindo R$ 181 milhões. O número ficou 30% abaixo do consenso de mercado. Com isso, a margem bruta encolheu 0,6 ponto percentual, chegando a 26,6%.
Desafios operacionais entram em foco
A reação negativa não se deu apenas por conta dos números. Durante a conferência com analistas, a própria empresa apontou fragilidades operacionais. Entre os fatores citados estão a perda de produtos por furtos, maior dependência de promoções e um mix de vendas menos lucrativo.
Além disso, a base de comparação não ajudou. Em 2024, houve uma corrida às farmácias por testes de COVID-19 e repelentes, inflando artificialmente os resultados daquele primeiro trimestre. Mesmo com essa explicação, o mercado não aliviou: os dados sinalizam vulnerabilidades que, se não tratadas, podem minar o desempenho da empresa no médio prazo.
Ao mesmo tempo, analistas alertam que o aumento de pessoal por loja, uma decisão da empresa para reforçar o atendimento, pressiona os custos. Segundo o JP Morgan, a diluição dessas despesas depende de um ritmo mais acelerado de vendas — o que ainda não aconteceu nas lojas maduras.
Concorrência impõe ritmo mais agressivo
Se antes a RD Saúde liderava com folga, agora a disputa se intensifica. O Itaú BBA chama atenção para a ascensão de rivais como Panvel e Pague Menos. Ainda que a RD tenha conquistado 0,4 ponto percentual de participação no trimestre, seu ritmo de crescimento parece aquém do necessário.
Esse contexto acende um alerta mais profundo: há uma mudança estrutural em curso no varejo farmacêutico? Embora ainda seja cedo para afirmar, muitos analistas já defendem que o setor exige mais inovação, digitalização e eficiência de custos. Caso contrário, players tradicionais podem perder relevância.
Nesse sentido, a comunicação com investidores será crucial. Mostrar capacidade de resposta rápida e clareza na estratégia de recuperação pode evitar uma deterioração maior da confiança — que já foi abalada.
Expectativas mudam, e o futuro exige reinvenção
Agora, o mercado busca sinais concretos de reação. A RD Saúde precisará mostrar fôlego para enfrentar um ambiente cada vez mais competitivo. Não bastará crescer — será preciso crescer com qualidade, margens saudáveis e eficiência operacional.
A queda expressiva nas ações não foi apenas um castigo momentâneo. Representa, sobretudo, um chamado à transformação. Os próximos trimestres serão decisivos para que a empresa prove sua capacidade de adaptação e retome o protagonismo perdido.
Enquanto isso, analistas e investidores observam com lupa cada movimento. Afinal, num setor tão dinâmico, quem hesita pode ficar para trás — e o mercado não costuma perdoar.