Vendas em queda

Alerta para donos de BYD: concessionárias estão fechando as portas

Mesmo líder de vendas, montadora chinesa vê revendedores fecharem após queda na demanda e excesso de estoque.

byd padrao2024
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  • Concessionárias da BYD fecharam as portas em Shandong e Liaoning após queda nas vendas e excesso de estoque.
  • Transição para carros elétricos reduziu a manutenção, cortando receitas dos revendedores e esvaziando o modelo tradicional.
  • Descontos agressivos e quebra no crédito bancário dificultam a recuperação e colocam mais empresas em risco.

Duas redes de concessionárias da BYD fecharam as portas na China, revelando uma crise silenciosa que afeta o varejo automotivo mesmo para marcas líderes. Pressionadas por estoques altos, redução de receitas e mudanças nos hábitos dos consumidores, revendas enfrentam dificuldades para se manter no mercado.

Varejistas paralisam serviços e geram revolta de consumidores

Nos últimos 30 dias, grupos de concessionárias da BYD encerraram atividades em duas províncias chinesas: Liaoning e Shandong. Assim, em Liaoning, a Xingqi Group parou de entregar veículos e de prestar serviços a mais de 60 clientes, segundo a emissora estatal da região. Já em Shandong, a Qiancheng Holdings deixou consumidores sem resposta após o fechamento de 20 showrooms.

Além disso, a situação gerou reação imediata. Então, mais de 500 consumidores se organizaram em redes sociais para exigir providências. Nesse sentido, alguns afirmam ter sido prejudicados por promessas não cumpridas, como garantias vitalícias ou pacotes de seguro vendidos nas lojas agora fechadas. Em um dos relatos, uma cliente disse ter adquirido um BYD Seagull e, meses depois, descobriu que não conseguiria renovar o seguro com a mesma empresa. Nem mesmo a central de atendimento da montadora conseguiu oferecer solução.

Desse modo, o caso da Qiancheng expõe um agravante: a retração no crédito bancário. Como outras concessionárias da região também quebraram, bancos passaram a restringir empréstimos, aumentando ainda mais a pressão financeira sobre os varejistas.

Veículos elétricos mudam a lógica do setor

A transição para veículos elétricos acelerou o colapso de modelos tradicionais de concessionárias. Ao contrário dos carros a combustão, os elétricos exigem menos manutenção, o que reduz receitas com serviços — uma das principais fontes de lucro das lojas. Além disso, muitas montadoras, incluindo a BYD, passaram a investir na venda direta ao consumidor, o que esvazia o papel dos intermediários.

Dados da Associação de Carros de Passageiros da China mostram que os estoques de veículos em abril chegaram a 3,5 milhões de unidades — o maior volume desde dezembro de 2023. Isso representa 57 dias de vendas paradas, indicando um gargalo no escoamento da produção. Em janeiro, as revendas da BYD já estavam entre as três com maiores volumes estocados.

A situação se agravou com o lançamento da nova tecnologia God’s Eye, anunciada em fevereiro. Como ela não pode ser instalada nos modelos anteriores, as concessionárias ficaram com carros “defasados”, forçando liquidações com grandes descontos para limpar os pátios.

Redução de preços amplia as perdas e dificulta recuperação

Diante do acúmulo de estoque, muitas lojas adotaram uma estratégia agressiva de cortes de preços. Os descontos chegaram a milhares de yuans por unidade. A curto prazo, isso pode ajudar nas vendas, mas os prejuízos acumulados colocam a sobrevivência de diversas concessionárias em risco.

A Qiancheng Holdings divulgou uma carta em abril alertando sobre os impactos das mudanças na política comercial da BYD. Segundo o grupo, os ajustes adotados pela montadora desde 2022 afetaram diretamente seu fluxo de caixa. A ausência de suporte institucional e o cenário de baixa demanda dificultaram qualquer reação do setor varejista.

Apesar da gravidade do problema, nem a BYD nem as concessionárias envolvidas se manifestaram oficialmente até agora. Os consumidores, por sua vez, seguem enfrentando incertezas sobre garantias, seguros e suporte técnico para os veículos já adquiridos.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.