
- Após o lançamento do Crédito do Trabalhador, taxa média do consignado chega a 55,59% ao ano.
- 62,6% das operações foram feitas por quem recebe até 4 salários mínimos.
- Concessões saltam para R$ 5,6 bi em abril, e saldo total sobe R$ 4 bilhões desde fevereiro.
Lançado com a promessa de baratear o crédito, o programa Crédito do Trabalhador provocou exatamente o oposto. Desde sua entrada em vigor, em março de 2025, os juros médios do consignado para trabalhadores da iniciativa privada dispararam. Em maio, a taxa atingiu 55,59% ao ano, segundo dados do Banco Central.
O salto de 14,73 pontos percentuais em relação a fevereiro, mês anterior ao anúncio da medida, surpreendeu até os analistas mais conservadores. A nova modalidade, que permite o uso de até 10% do FGTS como garantia, chegou com discurso de inclusão financeira. Entretanto, os números revelam que ela tem custado caro, sobretudo para os trabalhadores de baixa renda.
Juros sobem mesmo com garantia do FGTS
A proposta foi apresentada pelo governo Lula como uma revolução no acesso ao crédito. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que os juros cairiam pela metade. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, projetava taxas similares às dos aposentados. Contudo, os dados mostram o oposto.
Mesmo com garantias robustas, como a possibilidade de utilizar também a multa rescisória de 40% em caso de demissão, os bancos aplicaram juros bem acima do desejado. O Banco do Brasil, por exemplo, operou com taxa anual de 45,41%, enquanto o Itaú cobrava 45,98%.
Ainda assim, a Caixa Econômica Federal ofereceu as condições mais acessíveis: 28,09% ao ano, durante a terceira semana de junho. No extremo oposto, empresas como a Valor S/A praticaram juros que chegaram a 122,19% ao ano, mais de quatro vezes a média histórica anterior ao programa.
Crédito cresce, mas custo pesa no bolso do trabalhador
Embora o custo tenha subido, a procura por crédito também explodiu. O volume de concessões saltou de R$ 1,57 bilhão em fevereiro para R$ 5,6 bilhões em abril. Em maio, houve recuo para R$ 3,09 bilhões, mas ainda assim representou quase o triplo do registrado antes da nova política.
O saldo total do crédito consignado para a iniciativa privada subiu de R$ 370,6 bilhões para R$ 374,6 bilhões entre fevereiro e maio. Segundo o governo, o aumento reflete a adesão dos trabalhadores ao programa.
De fato, a maioria dos contratos foi feita por quem mais sente os impactos do juro alto. De acordo com o Ministério do Trabalho, 62,6% das operações foram realizadas por pessoas com renda de até 4 salários mínimos. Esse grupo contratou cerca de R$ 7 bilhões até 9 de junho. Ou seja, a população mais vulnerável ficou mais endividada — e com juros maiores.
Governo minimiza alta, bancos se defendem
Em nota, o Ministério do Trabalho afirmou que o programa tem ajudado a substituir dívidas caras, como o rotativo do cartão de crédito. De março para abril, esse tipo de crédito caiu quase R$ 3 bilhões. No entanto, os dados de maio mostram nova alta, o que indica que a migração pode não ter sido suficiente para aliviar o bolso do trabalhador.
O Banco do Brasil celebrou a marca de R$ 4,5 bilhões contratados, com cerca de 450 mil operações em 5 mil municípios. Já o Itaú destacou que seus clientes podem migrar dívidas antigas para a nova modalidade com melhores condições, embora as taxas oferecidas sigam elevadas.
O governo agora enfrenta o desafio de conter os efeitos colaterais da medida que deveria aliviar o orçamento da população. Marinho declarou que não vai tolerar “juros incompatíveis” com um programa que oferece garantias. Mas, até aqui, o discurso ainda não se refletiu nas taxas.