
- Bill Gates se comprometeu a doar a maior parte de sua fortuna nos próximos 20 anos, com foco em saúde, educação e combate às mudanças climáticas.
- Ele criticou os cortes da ajuda externa dos EUA, destacando os riscos de retrocessos em áreas como saúde e educação em países em desenvolvimento.
- A decisão de Gates é um exemplo para outros bilionários e empresas, reforçando a importância da responsabilidade social e do impacto positivo na sociedade.
Bill Gates anunciou que deve doar a maior parte de sua fortuna até 2045, impulsionando os investimentos da Fundação Gates em saúde, educação e mudanças climáticas. Ele também criticou os cortes dos EUA em ajuda internacional, apontando riscos humanitários.
Novo ritmo para velhas urgências
Bill Gates, cofundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo, anunciou que pretende doar a maior parte de sua fortuna de forma acelerada. Até 2045, cerca de 90% de seus ativos serão transferidos para ações filantrópicas, segundo declaração publicada nesta quinta-feira (8). A meta representa um compromisso ousado diante da magnitude de seu patrimônio, estimado atualmente em mais de US$ 124 bilhões.
A Fundação Bill e Melinda Gates, considerada uma das maiores organizações privadas de caridade do planeta, será o principal destino desses recursos. Nos últimos anos, a fundação tem atuado fortemente em temas como saúde pública, segurança alimentar, saneamento básico e combate a epidemias. A promessa de intensificar esse investimento nos próximos 20 anos reforça a visão de que a filantropia pode agir onde os governos falham ou se omitem.
Em sua fala pública, Gates reforçou que sua fortuna “pertence à sociedade” e que ele não quer “que seus filhos fiquem com tanto dinheiro”. Embora essa ideia não seja nova, o anúncio chamou atenção por sua urgência. Ele destacou que, diante de crises cada vez mais complexas, como pandemias e mudanças climáticas, agir com lentidão não é mais uma opção.
Crítica aos EUA e à erosão da ajuda global
Apesar de destacar o papel da filantropia privada, Gates fez duras críticas ao governo dos Estados Unidos. Em entrevista à AFP, o bilionário demonstrou preocupação com os sucessivos cortes promovidos pelo Congresso norte-americano nos repasses para ajuda internacional. Ele classificou essas decisões como “desastrosas”, alertando que milhões de vidas podem ser impactadas negativamente.
Nos últimos anos, o orçamento destinado a projetos de cooperação e saúde global foi drasticamente reduzido. Para Gates, esse retrocesso pode comprometer avanços históricos no combate à pobreza e à mortalidade infantil em países em desenvolvimento. Além disso, o bilionário afirmou que os cortes enfraquecem a posição moral e diplomática dos EUA no cenário internacional.
A crítica também inclui um alerta: embora doações privadas tenham poder transformador, elas não substituem o papel do Estado. Por isso, segundo Gates, a filantropia deve ser um complemento — e não um substituto — da responsabilidade pública.
Responsabilidade das grandes fortunas
A decisão de Gates resgata um debate cada vez mais urgente: o papel social dos ultrarricos. Embora alguns bilionários, como Warren Buffett, também tenham assumido compromissos parecidos, a grande maioria ainda reluta em seguir o mesmo caminho. Para o filantropo, o acúmulo extremo de riqueza não se justifica quando há tanta desigualdade no mundo.
Esse posicionamento reforça o chamado para que mais empresários e herdeiros adotem práticas filantrópicas de impacto. O Giving Pledge — iniciativa criada por Gates e Buffett para incentivar bilionários a doarem ao menos metade de sua fortuna — ainda tem adesão limitada. A nova postura de Gates, portanto, funciona como um novo estímulo à adesão global.
Ao se comprometer publicamente com metas concretas e de longo prazo, o empresário tenta não apenas redistribuir recursos, mas também influenciar políticas públicas e inspirar outros líderes a agir. Segundo ele, “o mundo precisa de mais generosidade e menos complacência”.