
- Arminio Fraga alerta que o governo Lula não tem tomado as medidas necessárias para garantir um futuro econômico estável
- Fraga defende a criação de uma “Bolsa Família Alimentação” e se opõe à alteração da meta de inflação
- Ex-presidente do BC vê possibilidade de recessão e se preocupa com o impacto das tarifas de Trump na economia global
O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga fez duras críticas à falta de disposição política no governo Lula para implementar reformas essenciais e fortalecer o compromisso com as contas públicas.
Em entrevista exclusiva ao PlatôBR, Fraga disse que o Banco Central está sozinho em sua missão de lidar com os desafios econômicos, sem o apoio necessário do governo. Segundo ele, o presidente Lula pode enfrentar grandes dificuldades nos próximos anos, com o Brasil colhendo “problemas” em vez de resultados positivos.
Falta de apoio ao Banco Central
Fraga destacou que, apesar do bom relacionamento pessoal entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e a equipe do ministro Fernando Haddad, a gestão econômica não tem funcionado como deveria. Para ele, o BC está com uma “batata quente na mão difícil de segurar”.
O ex-presidente afirmou que o governo não tem mostrado disposição para encaminhar reformas necessárias, o que coloca o Banco Central em uma posição difícil. Fraga alertou que, sem mudanças estruturais e um compromisso sério com a responsabilidade fiscal, as perspectivas para a economia não são boas.
Críticas à gestão econômica e ao pacote de inflação
Sobre as tentativas do governo de reduzir a inflação dos alimentos, Arminio Fraga se mostrou cético. Ele defendeu a criação de uma “Bolsa Família Alimentação” voltada para a população mais carente, em vez de medidas heterodoxas de controle de preços, que ele considera ineficazes.
Na sua visão, o pacote proposto pelo governo não é suficiente para resolver o problema de forma sustentável e precisa ser repensado.
Além disso, Fraga se posicionou contra a ideia de alterar a meta de inflação do Brasil, atualmente em 3% ao ano. Ele argumentou que a proposta de mudança, defendida por parte do mercado, poderia prejudicar ainda mais a estabilidade econômica do país e comprometer a confiança nas políticas monetárias.
Recessão e incertezas no horizonte
O ex-presidente do Banco Central também alertou sobre os riscos de uma possível recessão no final deste ano, principalmente devido à falta de ações concretas do governo para estimular o crescimento.
Fraga mencionou que o Brasil ainda enfrenta uma série de desafios estruturais que podem dificultar o avanço econômico, especialmente se o governo continuar sem tomar as medidas necessárias para promover um crescimento sustentável.
Em relação ao governo Lula, Fraga comentou sobre as críticas frequentes que o presidente recebe do mercado financeiro. Ele reconheceu que Lula tem razões para se incomodar com essas críticas, mas alertou que o presidente não deve interpretar isso de forma pessoal.
Para o ex-presidente do BC, o mercado tem razões legítimas para se preocupar com a condução da economia, mas a reação do mercado não é uma questão de animosidade pessoal contra Lula, já que esse mesmo mercado aplaudiu as medidas adotadas durante o primeiro mandato do presidente.
Críticas a Fernando Haddad
Fraga também comentou sobre as críticas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Embora o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tenha chamado Haddad de “fraco”, Arminio Fraga minimizou essas críticas, destacando que o ministro está cumprindo as ordens do presidente.
Para ele, Haddad “faz o que o chefe dele manda” e, apesar das dificuldades, o principal responsável pelas decisões econômicas é o próprio Lula. Fraga sugeriu que Haddad poderia até se posicionar de forma mais firme, mas enfatizou que o “maestro” é sempre o presidente.
Impacto das medidas de Donald Trump
Por fim, Fraga expressou sua preocupação com as políticas econômicas globais. Especialmente, as medidas adotadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que têm mexido com a economia global.
O anúncio de tarifas de 25% sobre aço e alumínio, sem exceções ou isenções, incluiu o Brasil e intensificou a tensão comercial internacional. Fraga alertou que, enquanto o mundo caminhava para uma maior abertura econômica, essas medidas protecionistas podem reverter esse processo. E, contudo, gerar mais incertezas para os mercados globais.