- Jerome Cadier expressou dúvidas sobre a fusão, destacando que a concentração de mercado pode não ser a melhor solução para resolver a dívida das empresas
- O CEO da Latam apontou que a alta dívida e as taxas de juros elevadas prejudicam o lucro das empresas, apesar das boas margens operacionais
- A Latam participará das discussões sobre a fusão quando houver mais informações, buscando a melhor solução para o mercado e os passageiros
Na apresentação dos resultados financeiros do quarto trimestre de 2024, Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, adotou uma postura cautelosa ao comentar a possível fusão entre as concorrentes Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4).
O executivo mostrou-se reticente em relação aos detalhes do acordo e afirmou não ter clareza sobre a proposta, mencionando as “medidas de mitigação” que ainda precisam ser definidas.
Embora tenha reconhecido o movimento de concentração no setor aéreo, ele expressou dúvidas sobre a real necessidade de uma fusão. Assim, como solução para os desafios enfrentados pelas empresas.
Outras formas de resolver o problema
Ao ser questionado sobre as vantagens de uma união entre Gol e Azul, Cadier enfatizou que, no seu entendimento, uma combinação de negócios pode não ser a melhor alternativa para resolver os problemas de dívida enfrentados pelas companhias.
O CEO da Latam fez questão de destacar que a empresa que lidera não seguiu esse caminho. Em vez de se concentrar, a Latam optou pela recuperação judicial nos Estados Unidos, conhecida como Chapter 11.
O resultado dessa estratégia foi uma recuperação sólida. Assim, sem a necessidade de união com outras empresas para fortalecer seu posicionamento no mercado.
“Tenho minhas dúvidas se uma combinação de negócios é a melhor forma de resolver um problema de dívida”, afirmou Cadier.
Termos operacionais
O CEO da Latam explicou que o setor aéreo brasileiro, em termos operacionais, se encontra em uma situação relativamente saudável, com boas margens.
No entanto, ele ressaltou que o principal desafio é lidar com a elevada dívida das empresas aéreas em um cenário de altas taxas de juros. Dessa forma, o que impacta negativamente no lucro líquido, apesar das boas margens operacionais.
Cadier reconheceu, contudo, que as empresas concorrentes, Gol e Azul, operam de maneira eficiente e com alta qualidade nos serviços. Especialmente, em termos de pontualidade, cancelamento e atendimento ao cliente, colocando-as no mesmo nível das principais companhias aéreas globais.
Ele, no entanto, apontou a dívida como o principal obstáculo para essas empresas.
“O ativo é muito bom, o problema é a dívida”, disse.
Processo de fusão
Em relação ao processo de fusão, o CEO da Latam destacou que a análise da proposta pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) será crucial para a definição do futuro do mercado aéreo brasileiro.
Ele acredita que o órgão regulador realizará uma análise minuciosa, buscando medidas de mitigação adequadas.
“Não queremos um mercado mais concentrado, com menos opções para os passageiros, preços mais altos e menos crescimento. Precisamos evitar isso”, afirmou Cadier, referindo-se ao risco de uma concentração excessiva no mercado aéreo.
O executivo fez um alerta sobre a possibilidade de a fusão levar a uma alta concentração em algumas rotas específicas, citando o risco de até 90% de participação de mercado em determinadas cidades.
O CEO da Latam afirmou que, enquanto não houver mais clareza sobre os detalhes da operação, a empresa aguardará para definir sua postura.
“Vamos participar desse processo, sem dúvida nenhuma, para garantir que a recomendação final seja a mais adequada, tanto para o mercado brasileiro quanto para os clientes”, finalizou Cadier.
Com a Latam entrando nas discussões apenas quando os trâmites estiverem mais claros, o futuro da fusão entre Gol e Azul ainda depende de muitas variáveis, especialmente de como o Cade irá conduzir o processo de avaliação e mitigação dos impactos no setor aéreo brasileiro.