
Os Correios divulgaram suas demonstrações financeiras relativas ao exercício de 2024, reportando um prejuízo de R$ 2,6 bilhões. A última vez em que a empresa havia registrado uma perda bilionária foi em 2016, com um resultado negativo de R$ 1,5 bilhão.
A análise detalhada dos números da empresa revelam os verdadeiros vilões do rombo bilionário da estatal.
A culpa é da “taxa das blusinhas”?
Em abril deste ano, a empresa divulgou um estudo indicando que a chamada “taxa das blusinhas” — imposto sobre a importação de produtos do exterior — resultou em uma queda de quase R$ 2,2 bilhões na arrecadação da empresa em 2024.
Segundo o levantamento, elaborado pela própria estatal, o impacto financeiro direto foi de R$ 2.160.861.702,75. A medida, apoiada pelo Ministério da Fazenda, foi proposta e aprovada pelo Congresso Nacional em junho de 2024.
Em meio a uma crise financeira significativa, os Correios figuram entre as dez estatais com os maiores prejuízos no governo Lula, acumulando um déficit superior a R$ 3 bilhões no ano.
Contudo, a análise detalhada do balanço da empresa demostra que a história não é bem essa.
Os Principais Vilões do Balanço
De acordo com o balanço divulgado pela empresa, é possível notar que os custos dos Correios aumentaram 4,5% de 2023 para 2024, mesmo com queda de 1,7% na Receita (o que demonstra uma perde de eficiência).
O maior ofensor no aumento das despesas foi o custo com pessoal, que aumentou 770 milhões de reais (8,1%).
Já o impacto na queda das remessas internacionais, em razão da “taxa das blusinhas” foi de R$ 530 milhões – isto é, uma queda de 12%. Ou seja, bastante diferente do “estudo” divulgado pela empresa em abril deste ano.

Também é possível perceber um aumento de 109 milhões de reais com o pagamento de multa e juros e outros 100 milhões de reais referente aos juros e correção monetária do Plano de Equacionamento do Déficit (PED).
O PED nada mais é do que o plano elaborado pelos Correios que prevê que participantes e a empresa contribuam com valores extraordinários para enfrentar o déficit do plano acumulado entre 2015 e 2020 no Postalis (fundo de pensão dos funcionários da estatal).
Vale lembrar que o Postalis está entre os maiores fundos de pensão do Brasil, tanto em volume de recursos sob gestão quanto em número de participantes ativos. Seus recursos têm origem nas contribuições dos empregados e da patrocinadora.
Esses déficits do Postalis são oriundos de uma série de investimentos errados e escândalos.
Por fim, outra rubrica que teve um aumento de mais de 800% foram os gastos com patrocínios, que pularam de 2,8 milhões de reais para 26,5 milhões de reais.
Ressalva do Auditor Independente
O balanço dos Correios também recebeu ressalva da auditoria independente responsável pela análise dos demonstrativos financeiros da empresa, devido a inconsistências nas provisões para processos judiciais.
Conforme relatório da Consult Auditores, apesar das melhorias promovidas pela área jurídica dos Correios na classificação de riscos processuais, ainda foram identificadas “fragilidades” nos critérios adotados e nos controles internos, o que gerou inconsistências nos valores de passivos judiciais e contingentes.
Diante disso, o auditor Paulo Sergio da Silva declarou não ser possível atestar a adequação do saldo dessas provisões, tampouco os eventuais impactos no resultado de 2024 e na reapresentação de valores referentes a 2023 e exercícios anteriores.