
- Correios encerraram 2024 com prejuízo de R$ 2,6 bilhões, o maior desde 2015, provocado por queda na receita e alta nos custos operacionais.
- A estatal perdeu espaço no setor de encomendas, registrando queda de 10,6% no volume de pacotes movimentados.
- O governo ainda não sinalizou privatização, mas avalia medidas estruturais para conter os prejuízos e reestruturar a empresa.
O prejuízo de R$ 2,6 bilhões registrado pelos Correios em 2024 representa o pior resultado da estatal desde 2015. A combinação entre queda na receita, alta nos custos e perda de competitividade vem agravando a situação financeira da empresa. O governo ainda não anunciou medidas concretas, mas avalia alternativas para reverter o cenário de deterioração.
Balanço acende alerta sobre futuro da estatal
O resultado financeiro negativo de R$ 2,6 bilhões, divulgado na última quinta-feira (8) pela direção dos Correios, expôs de forma contundente a grave crise enfrentada pela empresa. O número representa um salto de 226% no prejuízo em relação a 2023, quando o déficit foi de R$ 797 milhões. Embora esperado por analistas, o resultado chocou pela magnitude e reacendeu o debate sobre o papel da estatal no Brasil.
Segundo dados da companhia, a queda na receita líquida de vendas foi de 5,7%, totalizando R$ 20,1 bilhões. Esse recuo, segundo a diretoria, se deu em função da forte concorrência no setor de encomendas, dominado por grandes operadores privados. O setor, que cresceu nos últimos anos impulsionado pelo e-commerce, tem assistido a uma migração cada vez maior de clientes para serviços com maior eficiência e rastreamento em tempo real — pontos ainda frágeis na estrutura dos Correios.
Além disso, os custos operacionais da estatal subiram 5,3% em relação ao ano anterior, chegando a R$ 22,7 bilhões. A elevação de despesas com combustíveis, logística terceirizada e manutenção de estruturas pesadas contribuiu diretamente para o agravamento do resultado final.
Encolhimento operacional e perda de relevância no mercado
O relatório também revelou uma queda expressiva na movimentação de encomendas. Apenas em 2024, houve retração de 10,6% no volume de pacotes entregues. Esse dado reforça a percepção de que os Correios têm perdido protagonismo em um mercado que demanda agilidade, rastreabilidade precisa e soluções personalizadas para empresas de pequeno e médio porte.
Enquanto isso, empresas como Mercado Livre, Amazon, Shopee e transportadoras privadas ampliam suas redes e ganham capilaridade. Com isso, mesmo com sua presença nacional e histórica, os Correios têm se mostrado menos competitivos, sobretudo em regiões urbanas de maior densidade comercial. O processo de digitalização, segundo especialistas, ainda ocorre de forma lenta na estatal, que carrega uma estrutura engessada por normas públicas.
Esse cenário preocupa funcionários e sindicatos da categoria. Para eles, a deterioração do serviço pode abrir caminho para discursos privatistas. No entanto, o governo federal ainda não emitiu sinalização clara sobre eventuais mudanças no modelo atual da empresa. Internamente, o Ministério das Comunicações avalia alternativas para conter o rombo, que pode impactar outras estatais vinculadas à pasta.
Governo evita falar em privatização, mas discute ajustes
Embora não tenha havido anúncio oficial sobre mudanças profundas na gestão dos Correios, fontes do governo indicam que a reestruturação está em pauta. Uma das possibilidades em análise seria a segmentação da empresa por áreas estratégicas, isolando o serviço de cartas e correspondências do setor de encomendas.
Outra medida possível envolve parcerias com o setor privado para modernizar a infraestrutura logística, o que incluiria uso de tecnologia de rastreio, automação de centros de distribuição e adoção de modelos híbridos de entrega. Contudo, essas propostas ainda enfrentam resistência interna, especialmente de entidades sindicais que veem nelas o risco de esvaziamento da estatal.
O prejuízo bilionário também gerou movimentações no Congresso. Desse modo, parlamentares da oposição pressionam por explicações mais detalhadas da diretoria e cobram soluções rápidas para evitar que a empresa entre em colapso financeiro. Em contrapartida, setores governistas apostam na recuperação gradual com foco em eficiência.