Crise logística

Correios viram inquilino indesejado e somam dívidas milionárias

Com rombo bilionário e calote em galpão da Rio Bravo, estatal afasta investidores e perde prestígio no setor.

Correios
  • Correios acumulam dívidas de R$ 2,7 bilhões e enfrentam processos judiciais milionários, como o da Rio Bravo.
  • Gestores como XP e BTG evitam a estatal, citando riscos políticos, burocracia e má gestão dos imóveis locados.
  • Apesar da crise, empresas como Bresco seguem alugando para a estatal, que opera em todo o território nacional.

Por anos, os Correios foram referência em estabilidade no mercado logístico brasileiro. Mas o cenário mudou drasticamente. Em crise financeira, a empresa estatal deixou de ser uma inquilina confiável, acumulando litígios, atrasos e rescisões de contrato com grandes fundos de investimento.

Com mais de 12 mil agências e 747 contratos de locação, os Correios enfrentam inadimplência, enxugamento de operações e fuga de investidores. A rescisão unilateral com a Rio Bravo e a Tellus, que cobrará R$ 320 milhões na Justiça, marcou o auge da turbulência.

Reputação em queda

As pessoas já não veem os Correios como sinônimo de segurança contratual. A renúncia de Fabiano Silva à presidência, após 11 trimestres de prejuízo, acentuou a percepção de instabilidade. Atualmente, a estatal admite que não conseguirá honrar R$ 2,7 bilhões em dívidas, incluindo fornecedores, impostos e benefícios trabalhistas.

Esse movimento ocorre após a aprovação da chamada “taxa das blusinhas”, que eliminou a isenção nas compras internacionais. A medida impactou diretamente a receita da empresa, acelerando o plano de reestruturação e revisão de contratos de aluguel.

A saída repentina do galpão da Rio Bravo, com 50 mil m² em Contagem (MG), simboliza essa nova fase. Segundo a sócia da gestora, Anita Scal, os Correios quebraram o contrato de 15 anos alegando problemas estruturais. No entanto, a Rio Bravo afirma que os ajustes haviam sido feitos.

Justiça e política no centro da crise

A estatal enfrenta ainda dezenas de disputas judiciais envolvendo aluguéis de agências pelo Brasil. Em dezembro de 2024, mais de 200 unidades corriam risco de despejo. Agora, esse número pode ser ainda maior, atingindo todas as regiões do país.

Apesar disso, a companhia alega que adota as medidas legais e administrativas cabíveis. No mercado, no entanto, cresce a percepção de interferência política. Gestores apontam que essa ingerência tem atrasado decisões e travado reajustes de aluguel.

XP e BTG, por exemplo, evitam fechar contratos com os Correios. Ambos citam riscos operacionais e políticos como barreiras. “Quem ainda aposta na estatal está mais interessado em manter boa relação com Brasília do que no retorno financeiro”, disse um gestor ao Metro Quadrado.

Reação do mercado

Mesmo com os riscos, algumas casas seguem dispostas a alugar para os Correios. A Bresco, por exemplo, fechou um novo contrato com a estatal em Contagem, para um galpão de 15 mil m². O imóvel antes era ocupado pela Americanas, que pediu rescisão durante a recuperação judicial.

O novo contrato com os Correios representa apenas 3,4% do portfólio da Bresco. Segundo fontes próximas à transação, o risco é controlado e não muito diferente do enfrentado com inquilinos privados.

Apesar da turbulência, a capilaridade dos Correios ainda é vista como trunfo. A estatal é a única a operar em todos os municípios do Brasil, o que a torna estratégica em algumas regiões.

Por outro lado, críticas à má gestão e à resistência em aceitar reajustes seguem afastando investidores. “A burocracia estatal atrasa decisões essenciais e compromete a performance do ativo”, afirmou outro gestor do setor.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.