
- Empresas ligadas ao regime chinês invadem sistemas brasileiros para vencer disputas estratégicas.
- Hackers como o USDoD e grupos como Plump Spider desafiam a segurança nacional.
- A inteligência artificial já é usada no combate aos ataques, mas governos ainda estão despreparados.
O Brasil virou foco de uma nova guerra silenciosa: a dos dados. Segundo o vice-presidente da CrowdStrike, empresas chinesas estariam espionando rivais brasileiras para vencer licitações.
Em entrevista, Adam Meyers, vice-presidente da CrowdStrike, revelou que o Brasil está sob ataque cibernético promovido pela China. Segundo ele, hackers estariam invadindo empresas e órgãos públicos para obter informações sigilosas. Com esses dados, as companhias chinesas teriam vantagem em grandes licitações de infraestrutura.
China quer obras e dados brasileiros
O objetivo dos ataques é garantir contratos bilionários em setores estratégicos, como energia e transporte. De acordo com Meyers, empresas chinesas moldam suas propostas com base em documentos roubados, como orçamentos e planos de concorrentes. Com isso, vencem disputas de forma desleal.
Além disso, as invasões facilitam a inserção de empresas como Huawei, Temu e Alibaba nos projetos brasileiros. Segundo o especialista, isso aprofunda a dependência econômica do país em relação à China. Essas ações fazem parte de uma estratégia geopolítica mais ampla de influência regional.
O especialista também destaca que a “diplomacia da dívida” se soma à espionagem digital. Ao oferecer obras e financiamentos, a China amplia sua presença sem recorrer a métodos tradicionais de dominação. Dessa forma, utiliza dados como instrumento de poder.
Cibercriminosos locais e espiões estrangeiros
O Brasil também enfrenta ameaças internas, como grupos cibercriminosos altamente organizados. Atualmente, a CrowdStrike monitora pelo menos seis quadrilhas atuantes no país. Entre elas está o Plump Spider, conhecido por aplicar golpes via chamadas telefônicas falsas.
Além disso, o caso do hacker brasileiro USDoD expôs a fragilidade da segurança digital nacional. Preso em Portugal, ele causou um dos maiores vazamentos de dados dos EUA. Para Meyers, o episódio mostra como criminosos locais têm impacto global.
Embora as ameaças sejam evidentes, a resposta dos governos latino-americanos ainda é limitada. Isso acontece, segundo Meyers, porque muitos países não priorizam crimes cibernéticos diante de desafios mais visíveis. Ainda assim, ele acredita que há espaço para cooperação internacional nesse campo.
IA na cibersegurança e o caso do apagão
A inteligência artificial já faz parte das ferramentas contra ciberataques. A CrowdStrike utiliza IA desde 2011, com a plataforma Charlotte. Ela ajuda funcionários a detectar ameaças de forma mais rápida e eficaz, mesmo sem experiência avançada.
Entretanto, governos da América Latina ainda estão atrasados na regulação e uso da IA. Conforme o executivo explicou, a tecnologia evolui mais rápido que a legislação. Por isso, há riscos tanto no uso indevido quanto na omissão.
Meyers também comentou sobre o apagão causado por falha no software Falcon, em julho de 2024. O problema afetou milhões de computadores e causou pânico em bancos e emissoras de TV. Apesar disso, o executivo garantiu que correções já foram feitas para evitar novos incidentes.
Um Brasil vulnerável e estratégico
A crescente atuação da CrowdStrike no Brasil é reflexo direto da relevância do país para os cibercriminosos. De acordo com Meyers, o Brasil se tornou o principal alvo na América Latina, tanto por criminosos quanto por nações como a China.
Por isso, o país é considerado uma peça-chave na defesa digital do Ocidente. Conforme afirmou o executivo, fortalecer a cibersegurança brasileira é uma forma de proteger todo o ecossistema digital regional.
Desse modo, a presença da empresa no país visa ampliar o uso de tecnologia moderna e treinar profissionais locais. Nesse contexto, o objetivo não é apenas proteger empresas privadas, mas também limitar a influência de potências estrangeiras.