
- A Âmbar assume a Eletronuclear com rombo estimado em R$ 600 milhões até o fim do ano e descasamento entre receita e despesa.
- Dívida de Angra 3, emissão de R$ 2,4 bilhões em debêntures e pagamento à Axia elevam pressão sobre o caixa da empresa.
- Futuro de Angra 3 depende de decisão do governo até dezembro; indefinição mantém risco estrutural e instabilidade na gestão.
A Âmbar, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista, assume 68% da Eletronuclear em meio a um cenário de dívida elevada e caixa insuficiente. O rombo estimado até o final do ano pode chegar a R$ 600 milhões, enquanto o descasamento entre receita e despesa persiste desde 2022.
O maior desafio da aquisição é lidar com a dívida de Angra 3, que consome recursos de Angra 1 e 2 para honrar obrigações do projeto. Além disso, a empresa terá de assumir R$ 2,4 bilhões em debêntures e pagar R$ 535 milhões à Axia, o que aumenta a alavancagem e pressão sobre o caixa.
Dívida de Angra 3 e impacto financeiro
O projeto de Angra 3, iniciado na década de 1980, já consumiu R$ 12 bilhões e exige mais R$ 23 bilhões para conclusão, segundo cálculos do BNDES. Caso seja abandonado, o custo seria de R$ 21 bilhões, criando um dilema financeiro.
A dívida para Angra 3 foi contraída em 2011 e deveria ser quitada com a geração de caixa da própria usina. A obra foi interrompida em 2015 devido à Operação Lava Jato, mas os pagamentos começaram em 2017, dentro do prazo contratual. Atualmente, apenas os juros da dívida somam R$ 800 milhões, elevando-se para R$ 1 bilhão ao incluir manutenção e outras despesas.
Para lidar com o problema, a Eletronuclear obteve um waiver de seis meses, que já expirou. Os bancos exigem pagamento integral até que haja definição clara sobre o futuro do projeto, pressionando ainda mais o caixa da empresa.
Descasamento de receita e desafios operacionais
Desde a privatização, a Eletronuclear não recebe aportes da ENBPar, sucessora da Eletrobras, o que acentua o descasamento entre receita e despesa. Em 2022, a diferença entre despesas e receita foi de 38% e subiu para 62% no ano seguinte. Para este ano, estima-se uma diferença de 20% a 25% devido a ajustes de pessoal e terceirizações.
Enquanto isso, as receitas de Angra 1 e 2 são usadas para cobrir obrigações de Angra 3, comprometendo o caixa operacional. O gasto anual com juros e despesas da obra alcança R$ 1 bilhão, colocando a Eletronuclear em risco de desequilíbrio estrutural.
Além das finanças, a empresa enfrenta instabilidade na gestão. O presidente deixou o cargo em julho e o diretor técnico interino renunciou em outubro. O diretor administrativo, responsável por ajustes, enfrenta críticas internas, e a Âmbar só poderá iniciar a reestruturação após concluir a transferência de obrigações no próximo ano.
Investimentos, regulação e perspectivas
O acordo com a Âmbar envolve assumir garantias de compromissos anteriores e participação em debêntures para a extensão da vida útil de Angra 1. Especialistas avaliam que os irmãos Batista pagam um múltiplo próximo de 7 vezes o Ebitda da empresa, considerado elevado, mas compatível com o risco regulatório do setor nuclear.
O futuro de Angra 3 depende de decisão do governo Lula até dezembro. Sem definição, a Eletronuclear continua com fluxo de caixa comprometido, enquanto negociações com a Aneel sobre reajuste tarifário não avançam. Pequenas usinas nucleares têm mercado garantido, mas assumir o projeto sem saneamento financeiro representa um desafio enorme.
O setor nuclear segue sendo estratégico para energia estável e redução de emissões de gases do efeito estufa, mas a Eletronuclear precisa de soluções rápidas para evitar colapso financeiro e operacional.