
- CEO da Eztec afirma que os jovens preferem ser influenciadores ou entregadores do que trabalhar em obras
- Empresa aposta na industrialização para reduzir dependência de mão de obra
- Benefícios como o Bolsa Família são apontados como fator que desestimula o trabalho no setor
Durante uma conferência com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre, o CEO da Eztec, Silvio Zarzur, fez duras críticas à escassez de mão de obra qualificada no setor da construção civil em São Paulo.
Em um desabafo contundente, o executivo não poupou palavras ao atribuir o atraso em algumas obras à falta de trabalhadores dispostos a atuar nos canteiros.
“As pessoas não querem mais trabalhar com obra. Querem ser influencer ou motoboy”, afirmou Zarzur, escancarando um problema que tem ganhado corpo em todo o setor.
A fala reflete um sentimento compartilhado por diversos executivos do ramo imobiliário, que enxergam uma mudança estrutural nas preferências da força de trabalho brasileira.
Profissões que exigem esforço físico e rotinas pesadas têm perdido espaço para ocupações consideradas mais flexíveis e menos extenuantes, como motoristas de aplicativo, entregadores e criadores de conteúdo digital.
Tecnologia como saída para canteiros esvaziados
Diante desse cenário, Zarzur revelou que a Eztec tem buscado saídas tecnológicas para contornar o problema. Uma das estratégias em curso é a industrialização de etapas do processo construtivo, com o objetivo de reduzir a dependência da mão de obra convencional.
Segundo ele, a aposta em pré-moldados e soluções industrializadas visa não apenas garantir mais agilidade às obras, mas também minimizar os impactos dessa escassez crescente de trabalhadores qualificados.
A tecnologia, que já se mostrava promissora como fator de modernização do setor, agora surge como necessidade urgente.
“Não é só sobre inovação, é sobre sobrevivência operacional. Precisamos adaptar os canteiros à realidade do século XXI”, destacou o executivo.
Mudança cultural e o papel dos benefícios sociais
Além das transformações no mercado de trabalho provocadas pelo avanço da tecnologia e das novas formas de ocupação informal, executivos do setor apontam para outro fator: o impacto de programas sociais no comportamento dos trabalhadores.
Em artigo publicado no Metro Quadrado, os empresários Rubens Menin (MRV) e Ricardo Gontijo (Direcional) argumentaram que o reajuste do Bolsa Família para R$ 600 – estabelecido no governo Bolsonaro e mantido na gestão Lula – tem contribuído para a diminuição da oferta de operários nas obras.
A crítica sugere que, com o valor do benefício, parte da população tem optado por não ingressar em empregos formais que exigem esforço físico e jornadas extensas.
Essa visão, no entanto, não é consensual e acende debates sobre o papel dos programas de assistência social. Enquanto setores produtivos denunciam uma “desincentivação ao trabalho”, defensores dos benefícios sociais argumentam que o problema está na precarização dos empregos oferecidos. Contudo, que não conseguem competir com outras fontes de renda ou com os ganhos mínimos garantidos pelo governo.
Um desafio para toda a construção civil
A fala de Zarzur, apesar de polêmica, reflete uma realidade enfrentada por toda a cadeia da construção civil: dificuldade em encontrar profissionais. E, ainda como pedreiros, serventes e carpinteiros tem atrasado cronogramas, aumentado custos e forçado empresas a rever seus modelos produtivos. Se antes o ofício era passado de pai para filho, hoje essa continuidade familiar parece rompida.
Executivos do setor destacam que o desafio não é apenas de contratação, mas também de formação e valorização. A mão de obra existente muitas vezes carece de qualificação técnica, o que agrava ainda mais o problema. Para muitos, o futuro do setor depende da combinação entre incentivo à profissionalização e modernização do processo construtivo.
O CEO da Eztec alerta: trabalhadores são essenciais para o progresso. Se o setor não agir, a falta de mão de obra pode comprometer o crescimento do mercado imobiliário, já pressionado por margens apertadas e alta competitividade.