Crescente radicalização

EUA ameaçam Moraes com veto de visto e Brasil ensaia reação diplomática

Decisão polêmica dos Estados Unidos sobre censura a americanos expõe tensão com autoridades brasileiras e acende alerta no Itamaraty.

Alexandre de Moraes
Crédito: Depositphotos
  • EUA ameaçam restringir vistos de autoridades acusadas de “censurar” americanos, com foco no ministro Alexandre de Moraes
  • Ex-embaixador Rubens Ricupero afirma que o Brasil deve reagir politicamente, mas sem adotar medidas de retaliação direta
  • Governo brasileiro monitora com cautela, enquanto cresce a preocupação sobre um possível desgaste nas relações diplomáticas

O clima entre Brasília e Washington azedou após o governo dos Estados Unidos anunciar uma nova diretriz de restrição de vistos para estrangeiros. Contudo, incluindo autoridades, que, segundo o Departamento de Estado, “censuram” cidadãos americanos.

O anúncio, feito nesta quarta-feira (28) pelo secretário de Estado, Marco Rubio, teve efeito imediato nas redes sociais e rapidamente respingou sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O conselheiro de Donald Trump, Jason Miller, não hesitou em marcar Moraes diretamente em uma postagem no X (antigo Twitter), interpretando a medida como uma possível “retaliação aos atos do magistrado”. Ainda que os EUA não tenham citado diretamente o Brasil ou Moraes no comunicado oficial, a menção explícita nas redes sociais acendeu um alerta entre diplomatas e analistas políticos.

Restrição

O ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Ricupero, avalia que, se os EUA de fato implementarem a restrição contra Moraes ou outra autoridade brasileira, haverá uma resposta política do governo Lula.

“Vai haver uma demonstração de desagrado. Isso provocará uma deterioração do relacionamento bilateral”, disse Ricupero.

No entanto, o ex-chanceler acredita que o Brasil não partirá para retaliações mais agressivas.

“Não acredito que o Brasil vá retaliar proibindo a entrada de autoridades americanas. Não é do nosso costume”, ponderou.

Para ele, uma resposta simbólica seria mais compatível com o perfil diplomático brasileiro, tradicionalmente mais moderado.

A medida americana parece ter surgido em um momento de crescente radicalização do discurso político nos EUA. Com as eleições presidenciais de 2024 se aproximando, figuras ligadas a Donald Trump intensificaram críticas a sistemas judiciais de países latino-americanos — entre eles, o brasileiro.

A acusação de “censura a americanos” levanta suspeitas sobre sua real motivação: seria uma ferramenta de pressão ideológica? Ricupero não descarta essa hipótese.

“Nós estamos com a maioria dos países do mundo. Eles [os EUA] é que estão em uma posição extrema, bem isolada”, argumentou.

Segundo ele, o STF brasileiro, ao agir contra a desinformação, está cumprindo seu papel constitucional.

“Moraes não está dispondo sobre os Estados Unidos, mas sobre a legislação e a democracia do Brasil”, enfatizou.

Na avaliação do diplomata, se a medida se confirmar contra Moraes, seria uma “atitude inamistosa”, que ameaça o princípio de independência entre os Poderes e fere o espírito de cooperação internacional. Ele alerta que isso pode criar um precedente perigoso:

“Não se pode criminalizar juízes por cumprirem suas obrigações institucionais. É uma sinalização diplomática muito ruim.”

Nos bastidores de Brasília, o Itamaraty monitora a situação com cautela. Interlocutores próximos ao governo evitam comentar oficialmente, mas admitem que um gesto como esse, mesmo que isolado, não passará despercebido.

O temor é de que as relações entre Brasil e EUA voltem ao patamar tenso que marcaram o período Bolsonaro-Trump, desta vez sob outra configuração.

Apesar de não haver, até o momento, nenhuma notificação formal sobre aplicação prática da medida contra brasileiros, o episódio já mobiliza setores políticos e jurídicos. A repercussão em redes sociais e na imprensa internacional pressiona o governo Lula a adotar uma postura firme, mas equilibrada.

O caso expõe não apenas a frágil linha entre política externa e disputas internas, mas também o desafio do Brasil em manter o diálogo com potências cada vez mais polarizadas.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.