
- Hugo Motta ameaça derrubar aumento do IOF e dá 10 dias para Haddad apresentar plano alternativo
- Mais de 20 PDLs foram protocolados no Congresso para barrar o decreto do governo
- Governo alerta que, sem aumento ou compensação, corte pode ultrapassar R$ 50 bilhões em despesas públicas
A crise entre o Congresso Nacional e o governo federal ganhou um novo capítulo explosivo nesta quinta-feira (29), quando o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou que o clima no Parlamento é de rebelião total contra o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Motta deu um ultimato à equipe econômica do ministro Fernando Haddad: o governo tem 10 dias para apresentar um plano alternativo. Caso contrário, verá a proposta ser sepultada pelo plenário da Câmara.
A declaração veio por meio de publicação na rede social X, após reunião com Haddad e líderes do governo.
“Reforcei a insatisfação geral dos deputados com a proposta de aumento de imposto do governo federal. E relatei que o clima é para derrubada do decreto do IOF na Câmara”, escreveu o deputado.
Gambiarras tributárias
Em tom firme, Motta ainda criticou a postura do Executivo ao recorrer a soluções que classifica como “gambiarras tributárias”.
“Combinamos que a equipe econômica tem 10 dias para apresentar um plano alternativo ao aumento do IOF. Algo que seja duradouro, consistente e que evite as gambiarras tributárias só para aumentar a arrecadação, prejudicando o país”, completou.
A medida do governo, anunciada na semana passada, previa a elevação das alíquotas do IOF para reforçar o caixa. E, assim, evitar cortes drásticos nas despesas discricionárias.
Contudo, a reação negativa do mercado e de parlamentares forçou uma revogação parcial do decreto. Ainda assim, mais de 20 Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) já foram protocolados com o objetivo de anular a decisão na íntegra.
Na noite anterior, após se reunir com Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o ministro Haddad tentou convencer os líderes de que não há alternativa viável no curto prazo.
“Expliquei as consequências em caso de não aceitação da medida, o que acarretaria em termos de contingenciamento adicional. Nós ficaremos num patamar bastante delicado do ponto de vista do funcionamento da máquina pública do Estado brasileiro”, afirmou o ministro a jornalistas.
Sensibilização
O governo calcula que, sem o aumento do IOF ou uma compensação equivalente, será necessário cortar mais de R$ 50 bilhões em despesas discricionárias — aquelas que financiam programas sociais, investimentos e serviços públicos essenciais.
A perspectiva de paralisação da máquina pública preocupa o Planalto, mas não tem sensibilizado o Congresso, que vê o movimento do governo como impopular e politicamente arriscado em um ano de articulações para as eleições municipais.
Na manhã desta quinta, Motta se reuniu com líderes partidários para discutir a possibilidade de pautar ainda nesta semana os PDLs que suspendem o aumento. A mobilização da Câmara pressiona Haddad a apresentar rapidamente uma saída técnica que evite tanto o desgaste político quanto o caos fiscal.
A tensão, contudo, reflete um cenário de frágil articulação entre Executivo e Legislativo, no qual o governo tenta equilibrar o compromisso com o novo arcabouço fiscal e a resistência crescente do Congresso a novos aumentos de carga tributária.
Se não houver consenso nos próximos dias, o país pode assistir a um embate direto que comprometerá a governabilidade e a execução orçamentária de 2025.