Visão estratégica

Investidor de Facebook e Nubank diz que foco deve ser no negócio, não nas tarifas

Dave Yuan afirma que cenário volátil exige disciplina e aposta em líderes que constroem com solidez e visão de longo prazo.

Crédito: Depositphotos
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  • Startups devem ignorar ruídos externos e priorizar planejamento, execução e cultura interna.
  • A Onfly superou a pandemia com disciplina, estratégia e resiliência, atraindo o interesse da Tidemark.
  • Yuan evita modismos e investe com cautela em líderes que pensam em valor a longo prazo.

Veterano do mercado de venture capital, Yuan alerta que startups não podem se distrair com tarifas ou crises e devem investir em bases sólidas para crescer.

Lucidez em tempos incertos

Fundador da Tidemark e investidor de empresas como Nubank, LinkedIn e Facebook, o americano Dave Yuan afirma que a atual guerra tarifária não pode travar os planos das startups. Para ele, manter o foco no negócio é mais importante do que acompanhar cada oscilação da política econômica internacional.

“Em momentos como este, haverá ganhadores e perdedores. Por isso, é essencial entender os impactos possíveis e, ao mesmo tempo, planejar com clareza os próximos passos”, disse Yuan, em entrevista à Bloomberg Línea. Segundo ele, o melhor caminho é orientar a equipe a seguir unida, mirando o médio e longo prazo.

Além disso, Yuan destaca que crises são inevitáveis em ciclos de mercado. Com quase 30 anos no setor, ele já atravessou a bolha das pontocom, o colapso do subprime, a recessão de 2016, a pandemia de covid-19 e o recente “inverno das startups” provocado pela alta de juros e retração global.

Resiliência como estratégia de liderança

Yuan acredita que as empresas que melhor atravessaram essas crises foram justamente aquelas que priorizaram o essencial. Durante momentos difíceis, essas companhias focaram no que controlavam: eficiência operacional, estrutura enxuta e desenvolvimento de produtos sólidos.

A Onfly, startup mineira de gestão de viagens corporativas, é um caso que ilustra essa filosofia. Ela entrou no mercado pouco antes da pandemia. Com o lockdown, a receita caiu a zero. Ainda assim, a equipe reduziu custos, manteve a cultura organizacional e saiu da crise mais forte, o que chamou a atenção da Tidemark.

Conforme Yuan explica, decisões precisas durante as crises ajudam a evitar cortes desordenados. Isso preserva o clima interno e reduz o medo constante de demissões, fortalecendo o engajamento dos colaboradores. “As empresas que ajustaram o time certo, nos lugares certos, conseguiram avançar sem causar pânico interno”, afirmou.

Ademais, esse tipo de ambiente favorece a inovação. Portanto, quando as equipes se sentem seguras, podem concentrar energia em soluções reais, e não em preocupações com a sobrevivência.

Longo prazo, disciplina e cheques robustos

Fundada em 2021, a Tidemark captou US$ 575 milhões no primeiro fundo. Diferentemente de outras gestoras que investiram no auge da bolha das startups, Yuan preferiu esperar. Isso porque muitos negócios naquela época se sustentavam apenas em projeções e não em resultados concretos.

Hoje, a Tidemark tem 11 empresas no portfólio. Entre elas, estão a canadense Clio, voltada a advogados; a americana AgVend, do agronegócio; e a holandesa Dutchie, que atua no setor de cannabis. Os aportes variam entre US$ 20 e US$ 50 milhões, sempre com foco em modelos escaláveis e líderes consistentes.

Segundo Yuan, esse tipo de escolha reduz o impacto da volatilidade dos mercados. “Ambientes políticos e econômicos mudam. No entanto, no longo prazo, o que realmente permanece são as empresas com boas propostas de valor”, destacou o investidor.

Portanto, mesmo com os altos e baixos do capital, a Tidemark se prepara agora para acelerar. Desse modo, com grande parte do fundo ainda disponível, Yuan afirma que os próximos anos devem ser de atuação intensa, mas sem abrir mão da cautela que garante sustentabilidade.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.