Tensão diplomática

Lula é acusado de promover antissemitismo

Conib critica presidente por “deturpar a realidade” e diz que ele estimula antissemitismo entre seus apoiadores ao comentar guerra em Gaza.

Lula
Crédito: Depositphotos
  • Conib acusa Lula de promover antissemitismo ao comentar conflito em Gaza e ignorar ações do Hamas.
  • Presidente afirmou que Israel age por “vingança” e classificou ofensiva como “genocídio”, sem citar o grupo extremista.
  • Itamaraty condenou assentamentos na Cisjordânia e reafirmou apoio à criação de um Estado palestino.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi duramente criticado neste domingo (1º) pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), após declarações sobre o conflito em Gaza. Segundo a entidade, o petista estaria promovendo o antissemitismo entre seus apoiadores ao adotar discursos que vilificam o Estado de Israel e ignoram o papel do grupo terrorista Hamas.

Durante o congresso nacional do PSB, realizado em Brasília, Lula condenou a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza. Em sua fala, ele afirmou que os ataques seriam motivados por “vingança de um governo contra a possibilidade da criação de um Estado palestino”. Além disso, voltou a acusar Israel de cometer “genocídio” na região, sem mencionar as ações do Hamas, responsável pelo massacre de civis israelenses em outubro de 2023.

Declarações acirraram tensões com a comunidade judaica

A Conib reagiu com veemência às falas do presidente. Em nota oficial, a entidade declarou que Lula “mais uma vez se dedica a deturpar a realidade para atacar e vilificar o Estado judeu”. O texto afirma ainda que o petista age com irresponsabilidade ao promover declarações que estimulam o antissemitismo no Brasil, colocando em risco a segurança da comunidade judaica no país.

“Israel não pratica genocídio em Gaza, e quem promove esse libelo antissemita busca ganhos oportunistas ou simplesmente ignora os fatos”, afirma o comunicado. A entidade sustenta que Israel se defende de uma organização terrorista — o Hamas — que se esconde entre civis, utilizando-os como escudo humano. A nota acusa o presidente de fomentar uma narrativa perigosa e unilateral.

Mesmo após as críticas, Lula manteve o tom. Segundo ele, a maioria do povo judeu não apoia a guerra em curso. “O que estamos vendo é um exército altamente militarizado matando mulheres e crianças. Isso não é uma guerra, é um genocídio”, declarou, ignorando os ataques cometidos pelo Hamas e as denúncias internacionais contra o grupo extremista.

Itamaraty endossa críticas ao governo israelense

A polêmica também ganhou respaldo institucional. O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota condenando a decisão do governo de Benjamin Netanyahu de instalar 22 novos assentamentos na Cisjordânia. Segundo o Itamaraty, a medida constitui uma “ilegalidade flagrante perante o direito internacional” e compromete os esforços pela criação de um Estado palestino.

O parecer do governo brasileiro faz referência direta a um parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça, emitido em julho de 2024, que considera a presença de Israel em territórios palestinos ocupados como uma violação do direito internacional. Dessa forma, o Brasil reforçou seu apoio à solução de dois Estados, defendendo a coexistência pacífica entre Israel e Palestina.

Contudo, para a Conib, as falas do presidente contribuem para um ambiente hostil. “O presidente da República, com suas falas antissemitas e irresponsáveis, parece querer criar problemas para a nossa comunidade ao estimular o antissemitismo entre seus apoiadores, numa atitude destrutiva”, diz o texto. A entidade alerta para os riscos dessa retórica em um país que até então oferecia segurança à população judaica.

Repercussão internacional e preocupações crescentes

As declarações de Lula têm sido acompanhadas com apreensão por autoridades israelenses e entidades internacionais. O embaixador de Israel no Brasil ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas fontes diplomáticas indicam que as falas do presidente podem gerar um novo desgaste nas relações entre os dois países. Vale lembrar que, em fevereiro, Lula já havia comparado a ação israelense em Gaza ao Holocausto, o que causou forte reação de Tel Aviv.

Além disso, o debate reacende uma discussão delicada no cenário internacional: os limites entre críticas ao governo de Israel e manifestações consideradas antissemitas. O discurso político precisa ser equilibrado, especialmente em momentos de tensão humanitária.

Enquanto isso, a Conib reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão, mas exige responsabilidade por parte das autoridades. “Palavras importam, sobretudo quando vêm do mais alto cargo da República”, conclui a entidade.

Leia a nota da Conib na íntegra:

“O presidente Lula mais uma vez se dedica a deturpar a realidade para atacar e vilificar o Estado judeu, vítima de um terrível e desumano ataque genocida do Hamas em 7 de outubro de 2023. Israel não pratica genocídio em Gaza, e quem promove este libelo antissemita o faz buscando ganhos oportunistas ou ignorando os fatos. O que Israel efetivamente faz é se defender de uma organização terrorista que se esconde atrás de civis palestinos, o que fica comprovado diariamente. O Brasil é um país onde a comunidade judaica vive em paz e segurança, mas o presidente da República, com suas falas antissemitas e irresponsáveis, parece querer criar problemas para a nossa comunidade ao promover o antissemitismo entre seus apoiadores, numa atitude irresponsável e destrutiva.”

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.