Presença controversa

Lula vai a evento repleto de ditadores na Rússia

O presidente brasileiro será presença confirmada na celebração do Dia da Vitória em Moscou, evento vai reunir diversos líderes com históricos de regimes autoritários.

Crédito: Depositphotos
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  • Lula vai participar do desfile do Dia da Vitória, em Moscou, nesta sexta-feira (9).
  • Presidente estará ao lado de líderes autoritários, como os da Coreia do Norte e Irã.
  • Decisão reacende críticas sobre os rumos da política externa do Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que viajará a Moscou para participar do desfile do Dia da Vitória, na próxima sexta-feira (9). O evento militar, promovido anualmente pela Rússia, contará com a presença de líderes de governos autoritários, como os do Irã, Coreia do Norte e Belarus. A decisão do presidente brasileiro despertou reações críticas no Brasil e no exterior, sobretudo diante do cenário de guerra entre Rússia e Ucrânia e da ausência de representantes das democracias ocidentais.

Lula escolhe ir à Rússia e gera reação política

O presidente Lula decidiu marcar presença no tradicional desfile do Dia da Vitória, em Moscou, que acontece nesta sexta-feira (9). A cerimônia homenageia o triunfo soviético na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o evento deste ano acontece em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia e ganhou contornos geopolíticos relevantes.

Ainda que o governo brasileiro afirme buscar neutralidade, Lula dividirá espaço com líderes como Kim Jong-un, da Coreia do Norte, Alexander Lukashenko, da Belarus, e Ebrahim Raisi, do Irã. Todos são amplamente criticados por práticas autoritárias e violações de direitos humanos. Portanto, a presença do presidente brasileiro desperta preocupação em aliados democráticos.

Aliás, a ida de Lula também ocorre num contexto de tentativa de reposicionamento do Brasil como ator diplomático global. Assim, o gesto pode ser interpretado como uma tentativa de fortalecer laços com potências fora do eixo ocidental, mesmo que isso envolva riscos.

Contexto da guerra amplia peso simbólico da visita

Desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, a maioria dos países ocidentais rompeu ou restringiu relações com o governo de Vladimir Putin. Por essa razão, os tradicionais aliados europeus não enviarão representantes ao evento em Moscou. Assim, a presença de Lula contrasta com o isolamento adotado por democracias consolidadas.

Embora o Itamaraty sustente que a visita não representa apoio à Rússia, analistas avaliam que, na prática, a imagem do Brasil pode sofrer. Afinal, ao participar do evento ao lado de líderes autoritários, Lula pode ser visto como complacente com regimes que desrespeitam valores democráticos.

Por outro lado, membros do governo argumentam que o Brasil busca manter canais de diálogo com todos os blocos políticos. Dessa maneira, a estratégia reforçaria o papel do país como possível mediador em conflitos internacionais.

Mesmo assim, o contraste com a ausência de democracias ocidentais acende alertas. A escolha do presidente brasileiro poderá repercutir negativamente entre parceiros comerciais e estratégicos, como Estados Unidos e União Europeia.

Internamente, oposição vê retrocesso e alerta para imagem

No Brasil, a decisão gerou imediata reação de setores da oposição. Parlamentares afirmam que a viagem compromete a credibilidade do país no cenário internacional. Além disso, acusam o presidente de adotar uma política externa ambígua e incoerente com os princípios democráticos da Constituição.

Mesmo dentro do Itamaraty, há desconforto. Diplomatas em cargos técnicos demonstraram preocupação com o impacto da aproximação com regimes autoritários. De fato, alguns enxergam na visita um possível enfraquecimento da atuação brasileira em temas como direitos humanos e meio ambiente.

Ainda que o Planalto tente justificar a decisão como estratégica, o contexto torna difícil dissociar o gesto do conteúdo político que ele carrega. Além disso, especialistas em relações internacionais alertam que a neutralidade defendida pelo governo pode ser descredibilizada por ações contraditórias como essa.

Contudo, o governo insiste que o Brasil precisa falar com todos. Nesse sentido, a visita a Moscou seria apenas mais um esforço de diálogo, e não uma tomada de posição.

Desfile coloca Lula no centro da cena geopolítica

Com a participação no evento, Lula se projeta internacionalmente. Ao mesmo tempo, enfrenta o desafio de manter coerência entre discurso e prática. O presidente vem defendendo uma diplomacia ativa, voltada ao multilateralismo e ao equilíbrio global. Contudo, a presença em um desfile militar ao lado de líderes autoritários põe essa postura à prova.

Além disso, a repercussão nas esferas políticas e econômicas poderá indicar o real custo dessa escolha. Ainda que o Brasil deseje autonomia diplomática, as consequências podem afetar futuras alianças estratégicas.

Assim, a presença de Lula em Moscou pode marcar um ponto de inflexão na política externa brasileira. Cabe ao governo explicar com clareza os motivos e os objetivos dessa participação, diante de um mundo cada vez mais polarizado.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.