Driblando tarifas

Marcas chinesas de elétricos ganham espaço na Europa e alcançam 10% do mercado, apesar de tarifas altas

Com BYD à frente, marcas da China recuperam espaço e lideram vendas mesmo com tarifas superiores a 45%.

anfavea carros eletricos mcamgo abr 14062023 15
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  • Marcas chinesas atingem 8,9% do mercado de elétricos e 7,6% do mercado de híbridos na Europa em abril.
  • Supera a Tesla nas vendas de elétricos no continente e dobra os números da rival MG.
  • Montadoras ampliam linha de híbridos para contornar tarifas da UE e manter presença nos principais mercados.

Enquanto Europa tenta frear a ofensiva asiática, montadoras chinesas reagem com novos modelos e estratégias híbridas para reconquistar o mercado elétrico.

As marcas chinesas de automóveis elétricos voltaram a surpreender em abril ao atingirem o maior market share europeu dos últimos nove meses, mesmo enfrentando tarifas superiores a 45% impostas pela União Europeia. Lideradas pela BYD, as montadoras do país asiático alcançaram 8,9% de participação no mercado de veículos totalmente elétricos no continente, segundo dados da consultoria Dataforce.

O avanço representa uma virada na trajetória de retração vivida após a adoção das taxas de importação em novembro de 2024. Em vez de recuar, os fabricantes asiáticos intensificaram sua atuação com foco também em modelos híbridos, elevando sua relevância no mercado europeu como um todo.

Estratégias adaptadas ao novo cenário

Apesar das barreiras comerciais, empresas como BYD e MG mostraram rápida capacidade de adaptação. Enquanto a primeira ampliou sua oferta de veículos elétricos e híbridos, a segunda migrou parte significativa de seus esforços para modelos com motores híbridos, como o crossover ZS e o subcompacto MG3.

“Os fabricantes chineses se ajustaram com sucesso ao novo ambiente de mercado”, avaliou Julian Litzinger, analista da Dataforce. Segundo ele, um salto nas vendas de híbridos foi crucial para impulsionar o desempenho geral das montadoras asiáticas no continente.

De fato, em abril, as marcas chinesas representaram 7,6% das vendas totais de carros híbridos na Europa — número expressivo quando comparado aos menos de 1% registrados no mesmo período do ano anterior. Portanto, o dado revela não apenas um crescimento em volume, mas também em diversificação de portfólio.

BYD assume a liderança e pressiona concorrentes

O maior destaque do mês foi, sem dúvida, a BYD. A montadora não só superou a Tesla em vendas de elétricos na Europa como também dobrou o número de unidades comercializadas em relação à MG. A façanha se deu mesmo diante da complexidade tarifária, reforçando a força da fabricante chinesa no mercado europeu.

Além disso, a estratégia da BYD se consolidou com o lançamento de modelos acessíveis e o reforço da linha híbrida. Na China, por exemplo, a empresa aplicou cortes de preços de até 34% para manter a competitividade. A política agressiva se refletiu também nas exportações.

Em contrapartida, a MG — marca de origem britânica, atualmente controlada pela estatal chinesa SAIC Motor — perdeu protagonismo entre os elétricos. Sua aposta agora é o segmento híbrido, especialmente em mercados onde as tarifas da UE não se aplicam, como Reino Unido e Noruega, embora até nestes países as vendas tenham recuado.

Mudança de foco e novos desafios à frente

Para os analistas, o movimento atual revela mais que uma estratégia comercial: trata-se de uma mudança de foco global das marcas chinesas. “O foco agora não está apenas nos carros elétricos, mas em outros trens de força”, resumiu Felipe Munoz, analista da Jato Dynamics.

Essa virada ocorre no momento em que a Europa busca fortalecer sua própria indústria automotiva e reduzir a dependência de tecnologias externas. No entanto, a capacidade de resposta das montadoras chinesas — com modelos competitivos e produção em escala — continua a desestabilizar o equilíbrio do setor.

Desse modo, com os consumidores europeus cada vez mais atentos ao custo-benefício dos híbridos e elétricos, a concorrência tende a se intensificar. Portanto, para as montadoras locais, o desafio não será apenas regulatório, mas tecnológico e estratégico.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.