Varejo em alerta

Nova concorrente estrangeira coloca pressão inédita sobre Renner e C&A

Rede sueca aposta em preços competitivos e e-commerce para conquistar consumidores brasileiros e desafiar o domínio das líderes nacionais.

Renner e C&A - GDI
Renner e C&A - GDI
  • A H&M estreia com lojas pequenas e preços estratégicos, desafiando o domínio de Renner e C&A.
  • Produção local e e-commerce integrado são diferenciais que podem acelerar sua expansão.
  • O setor manterá impacto inicial limitado, mas apresentará alto potencial de transformação.

A H&M, uma das maiores redes globais de fast-fashion, desembarca oficialmente no Brasil no próximo mês e já provoca reações no mercado. Com sua primeira loja física marcada para 23 de agosto, no Shopping Iguatemi, em São Paulo, e o lançamento simultâneo do e-commerce, a varejista sueca pretende disputar espaço com marcas consolidadas como Renner, C&A e Riachuelo.

Segundo analistas do Santander, embora o impacto imediato deva ser modesto, a entrada da H&M inaugura uma nova fase no varejo de moda. A estratégia omnichannel desde o primeiro dia e o anúncio de preços iniciais, como vestidos a R$ 199, apontam para uma abordagem agressiva, focada em posicionamento e escala futura.

Operação ainda tímida, mas com ambição de longo prazo

No curto prazo, a presença da H&M deve ser simbólica. As duas primeiras lojas, a do Iguatemi e outra no Shopping Anália Franco, programada para setembro, representam menos de 0,1% da área total de vendas da Renner. Ainda assim, a movimentação chama atenção, pois sinaliza que a marca planeja testar formatos e estudar o comportamento do consumidor brasileiro antes de uma expansão mais acelerada.

Apesar da escala reduzida, a H&M escolheu locais estratégicos na capital paulista. A primeira unidade ocupará 1.300 m², cerca da metade de uma loja flagship tradicional. Já a segunda loja terá o dobro do espaço. Essa diferença indica que a empresa quer comparar os resultados de layouts distintos antes de decidir o modelo ideal para o país.

Para os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, a escolha de uma abordagem gradual protege a margem das varejistas brasileiras. No entanto, os próximos passos da sueca devem ser monitorados de perto, pois o histórico global da companhia sugere capacidade de adaptação e crescimento rápido quando encontra terreno fértil.


Boutique da H&M em Paris. Crédito: Depositphotos.

Preço competitivo e produção local como diferenciais

A divulgação de preços, como vestidos a partir de R$ 199,99, reforça que a empresa buscará competir diretamente com as marcas nacionais, e não seguir a linha premium da Zara, sua principal rival europeia. Essa escolha pode representar uma ameaça relevante, já que as redes brasileiras costumam operar com preços até 40% mais baixos.

Ainda assim, o preço inicial da H&M é mais acessível que o da concorrente espanhola, o que pode atrair uma base de consumidores dispostos a pagar um pouco mais por novidades e design europeu. Além disso, a companhia planeja terceirizar parte da produção localmente, o que tende a reduzir custos e agilizar o giro de coleções.

Esse movimento favorece a estratégia fast-fashion, cujo modelo depende da rápida renovação do estoque e da resposta ágil à demanda. Com fornecedores no Brasil, a H&M pode se posicionar melhor frente às redes asiáticas, como Shein e Shopee, que enfrentam mais obstáculos logísticos e regulatórios no país.

E-commerce é aposta central para escala

Um dos trunfos da empresa sueca é a aposta inicial no e-commerce, que será lançado no mesmo dia da primeira loja física. Essa abordagem omnichannel, já testada em outros países, oferece conveniência e aumenta o alcance da marca mesmo com presença física limitada.

No Brasil, onde o comércio eletrônico cresce rapidamente no setor de moda, sair na frente com um site robusto pode ser decisivo. Muitos concorrentes ainda enfrentam dificuldades para equilibrar operação digital e física. A H&M, por outro lado, já chega com um modelo integrado, o que pode facilitar sua penetração e fidelização do público.

Para os analistas, o e-commerce permitirá que a marca alcance clientes em regiões onde ainda não tem lojas físicas. Isso pode acelerar sua expansão e criar desafios para concorrentes que ainda dependem majoritariamente da rede física para gerar receita.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.