Impacto fiscal e dívida pública

Pacote fiscal do governo não atende expectativas e deixa desafio da dívida pública intacto, afirmam economistas

O pacote fiscal detalhado nesta quinta-feira (28) pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) gerou reações mistas no mercado. Apesar de atingir a meta de R$ 70 bilhões em ajustes no próximo biênio, economistas avaliaram que as medidas anunciadas têm impacto limitado e não alteram significativamente a trajetória da dívida pública […]

Desenrola Dívidas
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  • O governo aplicou o pente-fino em programas sociais e implementou mudanças na DRU, medidas já conhecidas, mas com impacto limitado no curto prazo
  • As mudanças no abono salarial e no salário mínimo foram bem recebidas, mas seus efeitos reais só ocorrerão no longo prazo
  • A medida anunciada para 2026 foi vista como inoportuna e contraditória, enfraquecendo o pacote fiscal
  • As medidas apresentadas não alteram significativamente a relação dívida-PIB, mantendo o mercado preocupado

O pacote fiscal detalhado nesta quinta-feira (28) pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) gerou reações mistas no mercado. Apesar de atingir a meta de R$ 70 bilhões em ajustes no próximo biênio, economistas avaliaram que as medidas anunciadas têm impacto limitado e não alteram significativamente a trajetória da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Os principais pontos do plano incluem um pente-fino em programas sociais, mudanças na Desvinculação de Receitas da União (DRU) e ajustes no abono salarial e no salário mínimo.

No entanto, o mercado apontou a decisão de incluir a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais a partir de 2026 como um sinal ruim, o que enfraqueceu o pacote como um todo.

Medidas e suas limitações

Entre as iniciativas, o governo destacou o pente-fino em benefícios sociais, que deve gerar economia de R$ 26 bilhões. No entanto, economistas como Gabriel Leal de Barros, da ARX Investimentos, afirmaram que essa medida não traz novidades, já que é uma reapresentação de iniciativas previamente anunciadas e ainda não implementadas integralmente.

A flexibilização orçamentária proporcionada pela DRU também foi criticada. Embora amplie a margem de manobra para o governo, a medida não resulta em economia efetiva, o que reduz seu impacto fiscal.

Por outro lado, os ajustes no abono salarial e no salário mínimo receberam reconhecimento como passos na direção certa. No entanto, a implementação gradativa desses ajustes fará com que os efeitos reais só sejam sentidos no longo prazo, limitando os ganhos no curto prazo.

Críticas à isenção de IR

A inclusão da promessa de isenção do IR para contribuintes com renda de até R$ 5 mil mensais gerou desconforto no mercado. De acordo com Barros, o anúncio foi inoportuno, pois neutraliza parte do esforço fiscal anunciado.

“O timing foi o pior possível. Era algo esperado, mas sua inclusão agora foi uma tentativa de equilibrar as notícias ruins com algo positivo, o que acabou enfraquecendo o pacote como um todo”, avaliou.

A proposta de isenção, prevista para 2026, também foi vista como uma contradição com o discurso de austeridade que acompanhou o anúncio do pacote. Segundo analistas, essa medida adiciona incertezas quanto à sustentabilidade fiscal no médio prazo.

Dívida pública continua sem solução

Economistas concordam que o pacote não resolve a principal preocupação do mercado: a trajetória da dívida pública. A dívida bruta do governo federal permanece em patamar elevado, e as medidas anunciadas não são suficientes para reverter essa tendência.

“O pacote é mais uma tentativa de manter o arcabouço fiscal de pé, mas está longe de estabilizar a dívida pública”, destacou Barros. Ele também apontou que o ajuste fiscal efetivo é pequeno e que a credibilidade do governo junto ao mercado ainda precisa de reforços.

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