
- Lobista tentou liberar R$ 300 milhões no BNDES com ajuda de balanço falso e capital inflado.
- BNDES recusou o pedido e acionou os mecanismos internos de segurança e compliance.
- A Polícia investiga a fintech por lavagem bilionária e ligação com o crime organizado.
A Polícia Federal descobriu uma tentativa de desviar R$ 300 milhões de dinheiro público. O plano envolvia um lobista influente e uma fintech sob investigação por lavagem de dinheiro, que usaram documentos falsos e promessas de acesso privilegiado ao BNDES. Assim, os mecanismos internos do banco barraram a ação, mas as mensagens obtidas revelam o tamanho da fraude.
Além disso, as conversas revelam como o empresário Patrick Burnett, dono da fintech I9Pay, contou com a ajuda de Christian Simões, lobista ligado a esquemas de corrupção, para tentar burlar os filtros de segurança do banco público. O caso faz parte da Operação Concierge, desdobrada pela Operação Wolfie, que apura movimentações ilegais de até R$ 7,5 bilhões.
Influência vendida e documentos forjados
De acordo com a investigação, o lobista prometia facilitar o acesso ao crédito milionário com a ajuda de contatos dentro do banco. Para isso, a I9Pay apresentou balanços financeiros falsos e um capital social inflado para R$ 6 milhões, o que criaria uma aparência de solidez para justificar o empréstimo.
Ademais, as mensagens entre os dois são claras: “Você tem lá trezentos milhão mesmo”, escreveu Simões. Em seguida, orientou o empresário sobre como “estruturar os números” para dar entrada no pedido. A PF afirma que o objetivo era enganar os mecanismos de análise do BNDES, usando informações fabricadas.
Embora a promessa fosse de liberação rápida, o banco rejeitou a solicitação. Portanto, a negativa impediu o prejuízo aos cofres públicos e levou a investigação a descobrir os bastidores da fraude.
BNDES barrou operação e é tratado como vítima
Apesar das alegações do lobista, não há registros da entrada dele nas dependências do BNDES. Isso levou os investigadores a duas hipóteses: ou ele de fato tinha algum contato interno informal ou vendia uma falsa influência para enganar empresários.
O nome de uma suposta funcionária do banco, “Tainá”, aparece nas conversas. A PF apura se ela realmente facilitava o acesso, mas o BNDES se posicionou afirmando que seus mecanismos de compliance funcionaram e que apoia totalmente as investigações.
Em outro trecho, Simões afirma: “Não quero queimar essa minha boquinha no BNDES”. A fala indica que ele acreditava ter influência legítima ou queria parecer poderoso para garantir o contrato com Burnett.
Fintech fazia parte de rede que lavava bilhões
A tentativa de golpe de R$ 300 milhões é apenas um capítulo dentro de uma rede muito maior. A I9Pay, segundo a Polícia Federal, simulava ser um banco digital e oferecia serviços à margem do sistema regulado pelo Banco Central. Com isso, escapava de bloqueios judiciais e auditorias.
A fintech foi identificada como uma das operadoras do esquema revelado na Operação Concierge, que investigou a existência de falsas instituições financeiras ligadas a empresas controladas pelo PCC. Parte dos recursos movimentados era ocultada por meio de contas digitais camufladas, dificultando o rastreio de valores.
Conforme a PF avançou na apuração, descobriu que o plano com o BNDES representava uma nova frente para captar recursos com aparência legal, o que aumentou a gravidade do caso.