
- Selic a 15% pressiona consumo e dívida pública, e atinge o maior nível em duas décadas.
- Inflação fora da meta e câmbio instável empurram o Banco Central a manter juros altos.
- Governo gasta mais com juros (R$ 1 tri) do que consegue economizar; ajuste estrutural é urgente.
O Brasil vive um momento crítico. A taxa Selic foi elevada para 15%, o maior patamar desde 2005, reacendendo o alerta sobre os rumos da economia. Assim, a medida adotada para conter a inflação fora da meta já tem impactos diretos sobre o consumo, a dívida pública e os investimentos.
Por que a Selic explodiu agora?
O Banco Central justifica a alta da Selic como uma tentativa de controlar a inflação, que deve fechar 2025 em 5,51%, bem acima do teto da meta de 4,5%. Com isso, o país entra novamente em ciclo de juros altos para tentar reverter a escalada de preços — um dos fatores que mais penalizam os brasileiros de baixa renda.
Ademais, a influência cambial é decisiva nesse processo. Isso porque o dólar, que já acumulou alta de 155% desde 2011, mantém a pressão inflacionária sobre produtos básicos. Nesse sentido, de acordo com estudo da FGV, 13,93% da cesta de consumo das famílias com renda de até R$ 1.254 é impactada diretamente pelas flutuações do câmbio. Logo, para quem ganha acima de R$ 11 mil, o impacto cai para 11,07%.
Além disso, mais de 10% dos produtos consumidos pelos brasileiros têm preços vinculados ao dólar — de alimentos a itens de higiene. Ou seja, a alta da moeda americana amplia os custos mesmo de itens simples do dia a dia.
Inflação fora da meta pressiona política monetária
A meta de inflação no Brasil é clara: entre 1,5% e 4,5%. No entanto, o Boletim Focus já projeta um IPCA de 5,51% para 2025. Sendo assim, isso exige ação direta do Banco Central, cujo principal instrumento é justamente a taxa Selic. Então, a lógica é simples: juros mais altos desestimulam o consumo, reduzindo a pressão sobre os preços.
Mas essa medida tem um custo alto. O aperto monetário freia a atividade econômica, encarece o crédito e desestimula o investimento produtivo. E, pior: transfere boa parte dos recursos públicos para o pagamento de juros da dívida.
A tabela acima evidencia como a inflação dos preços livres (que não dependem de controle estatal) deve continuar alta em 2025. Esse fator pressiona o BC a manter os juros elevados por mais tempo.
A bomba-relógio da dívida pública
O Brasil deve encerrar 2025 com um gasto recorde de R$ 1 trilhão apenas com o pagamento de juros. Esse valor representa quase 30 vezes o superávit primário projetado para 2026, que é de apenas R$ 34 bilhões. Na prática, mesmo com arrecadação recorde, o país continua se endividando para pagar despesas correntes.
Além disso, a maior parte da dívida pública está atrelada à taxa Selic — 47,3% segundo dados oficiais. Com juros nesse patamar, o custo da dívida explode. E diferente de outros países, o Brasil paga a maior proporção de juros em relação ao PIB no mundo, superando Itália, Argentina e Turquia.
Ainda que o país tenha arrecadado R$ 1,27 trilhão entre janeiro e abril de 2025 — o equivalente a 31% do ano —, os gastos públicos no mesmo período já ultrapassaram R$ 1,6 trilhão. Isso indica que o problema central está nas despesas, e não na arrecadação.
E agora? Como proteger seu dinheiro
O cenário é de alerta. Nesse sentido, com a política fiscal em risco, inflação elevada e juros nas alturas, os investimentos precisam ser repensados com cautela. Especialistas recomendam diversificação, foco em ativos defensivos e atenção redobrada ao cenário internacional.
Além disso, historicamente, momentos de crise como o atual também representam oportunidades. Investidores experientes costumam aumentar a exposição a ações e ativos internacionais, aproveitando preços mais baixos. Já quem prefere segurança, tende a buscar renda fixa atrelada à inflação ou à própria Selic.
No entanto, é essencial entender que, mesmo com um superávit fiscal pequeno, o custo dos juros pode neutralizar os ganhos. Ou seja, o ajuste fiscal precisa ser mais profundo e sustentável, caso contrário o risco de desequilíbrio continua.