- O preço do café arábica atingiu o maior nível desde 1972 devido a uma crise global de oferta
- A produção de café no Brasil foi reduzida em 11 milhões de sacas, impactada por uma seca prolongada
- A produção global de café deve ficar 8,5 milhões de sacas abaixo da demanda na safra 2025-26, marcando o quinto ano consecutivo de déficit
- A alta nos preços pressiona torrefadores e cafeterias, que podem repassar os custos aos consumidores, e a Nestlé anunciou aumento de preços e redução de embalagens
Nesta terça-feira (10), os preços do café arábica atingiram um nível recorde em Nova York, refletindo as crescentes preocupações com uma crise global de oferta.
O aumento nos preços coloca o café como uma das commodities mais valorizadas do ano. Ainda, com o impacto da alta já sendo sentido por consumidores e torrefadores.
O principal fator por trás dessa escalada é a previsão de uma produção abaixo da demanda nos próximos anos. Especialmente no Brasil, maior fornecedor mundial da bebida.
A trader Volcafe Ltd. anunciou uma revisão em suas estimativas de produção de café no Brasil. Assim, após uma análise de campo identificar os danos causados pela seca prolongada.
A produção de café arábica, a variedade preferida para cafés especiais, deverá ser de apenas 34,4 milhões de sacas na safra 2025-26. O que representa, portanto, uma queda de 11 milhões de sacas em relação à estimativa inicial divulgada em setembro.
Revisão
A revisão para baixo reflete a severidade da seca que atinge as principais regiões produtoras do país. O Brasil, que já enfrenta uma crise hídrica, vê sua produção de café ameaçada, o que afeta diretamente o mercado global.
Além disso, a produção mundial de café deverá ficar 8,5 milhões de sacas abaixo da demanda na temporada 2025-26. Assim, marcando o quinto ano consecutivo de déficit na oferta.
Essa escassez prolongada não tem precedentes na história recente e tem levado a uma pressão crescente sobre os preços.
Os contratos futuros de café arábica, por exemplo, subiram mais de 80% este ano. No entanto, devido a uma combinação de fatores climáticos adversos, que incluem a seca no Brasil e incertezas em outros países produtores, como o Vietnã, maior fornecedor de café robusta.
Aumento nos preços
Os preços do café atingiram um aumento de 5,5% nesta terça-feira, superando o pico registrado em 1972, ano marcado pela “Geada Negra” que devastou os cafezais brasileiros e provocou uma grande escassez da commodity.
Os preços atingiram o maior nível desde aquele período, quando a oferta já estava comprometida. No entanto, o cenário atual de crise climática pode levar os preços a um patamar ainda mais alto nos próximos meses.
A preocupação com a safra de café no Brasil aumentou ainda mais esta semana, à medida que novas visitas a campo apontam para uma produção ainda mais baixa. Contudo, com estimativas que agora indicam cerca de 30 milhões de sacas.
Esse déficit de oferta tende a agravar a situação, especialmente quando se leva em consideração que o Brasil responde por cerca de um terço da produção mundial de café.
Como resultado, o mercado global se encontra em um momento delicado, onde a escassez de oferta deve sustentar os preços elevados por um período prolongado.
Torrefadores e cafeterias
A alta nos preços também pressiona diretamente os torrefadores e cafeterias, que enfrentam custos mais altos para garantir o abastecimento de café.
Para mitigar o impacto da elevação nos custos, empresas como a Nestlé já anunciaram aumentos nos preços e mudanças nas embalagens. Portanto, com a redução do tamanho dos pacotes, a fim de equilibrar as finanças diante da alta dos preços da commodity.
A Nestlé, em particular, destacou a necessidade de ajustes para compensar a alta no custo do café e, assim, manter a competitividade no mercado.
O cenário atual de alta nos preços do café reflete um momento de grande volatilidade no mercado.
Fatores climáticos
Analistas como Steve Pollard, do Marex Group, destacam que a combinação de fatores climáticos e os déficits consecutivos de oferta criam uma “fase fundamental forte”. Que deve, no entanto, sustentar os preços elevados no futuro próximo.
Para os consumidores, isso significa que, além de verem os preços do café subirem, também podem enfrentar menores quantidades nos pacotes. Ainda, devido às estratégias adotadas pelas empresas para lidar com a escassez.
Em um mercado global cada vez mais pressionado por crises climáticas e escassez de oferta, o café promete continuar sendo uma das commodities mais valorizadas do ano, e o impacto de suas flutuações de preço ainda deve ser sentido por um longo período.