
- Fraude de R$ 6 bilhões no INSS envolve servidores e advogados.
- A justiça afastou o presidente do órgão por ele supostamente ter se omitido diante dos crimes.
- Caso expõe falhas na governança e reacende debate sobre reforma.
O afastamento de Alessandro Stefanutto do comando do INSS expõe esquema de fraudes bilionárias em aposentadorias. Indicação política, omissões e conivência com organizações criminosas estão entre os alvos das investigações.
Fraude bilionária desmantelada pela PF
A operação “Sem Desconto”, deflagrada pela Polícia Federal, revelou um esquema criminoso responsável por fraudes estimadas em R$ 6 bilhões na concessão de aposentadorias e pensões pelo INSS. De acordo com os investigadores, o grupo atuava com a cumplicidade de servidores e advogados para burlar o sistema previdenciário.
A fraude consistia na criação de vínculos empregatícios fictícios e manipulação de documentos para gerar benefícios irregulares. Assim, com base nessas falsificações, criminosos conseguiam receber aposentadorias e auxílios sem cumprir os requisitos legais, lesando diretamente os cofres públicos.
Nesse sentido, a investigação também revelou que servidores do próprio INSS facilitaram parte significativa das fraudes. Em troca de vantagens financeiras, funcionários validavam informações falsas ou aceleravam processos com sinais claros de irregularidades. O esquema, segundo a PF, funcionava de maneira articulada e duradoura.
Desse modo, com o avanço das apurações, as autoridades expediram 15 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão em vários estados. A PF estima que o prejuízo pode aumentar, já que há suspeitas de ramificações ainda não identificadas na estrutura previdenciária.
Afastamento e crise política no governo
O principal alvo da operação foi Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, afastado de suas funções por determinação judicial. Embora ainda não o tenham formalmente acusado, os investigadores acreditam que ele se omitiu deliberadamente diante de alertas internos sobre irregularidades.
O ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou que a indicação de Stefanutto foi de sua inteira responsabilidade. Ele, no entanto, disse desconhecer qualquer envolvimento do presidente do INSS nas fraudes e prometeu colaborar com as investigações. Analistas interpretaram a declaração como uma tentativa de blindagem política.
No Congresso, parlamentares cobraram mais rigor na escolha de dirigentes de autarquias federais. A oposição criticou o governo por manter nomes com vínculos políticos frágeis e por não implementar controles mais rígidos no sistema previdenciário. Líderes do centrão também exigem explicações.
A base governista, por sua vez, tenta minimizar os impactos da crise, argumentando que o afastamento demonstra a autonomia das instituições e a disposição do governo em combater desvios. No entanto, o desgaste já é evidente entre aliados.
Conivência e falhas na governança
Relatórios internos do INSS, obtidos pela investigação, já apontavam indícios de fraudes há pelo menos dois anos. Documentos mostravam padrões repetitivos de concessões suspeitas, sobretudo em estados do Norte e Nordeste, mas nenhuma ação efetiva foi tomada pela presidência do órgão.
Para especialistas em governança pública, a ausência de medidas corretivas configura conivência institucional. Segundo eles, a cultura da impunidade e a politização de cargos técnicos contribuem para a perpetuação de práticas ilícitas no setor público.
A Controladoria-Geral da União (CGU) também foi acionada para verificar eventuais falhas nos sistemas de controle do INSS. A expectativa é que, com o apoio de órgãos de fiscalização, seja possível rastrear toda a cadeia de responsabilidades e propor mudanças estruturais.
Enquanto isso, aposentados legítimos temem os impactos das investigações. Muitos relataram atrasos na concessão de benefícios desde o início da operação. O governo, no entanto, garantiu que os pagamentos regulares estão mantidos.
Reformas e futuro da Previdência
O escândalo reacende o debate sobre a necessidade de modernizar e blindar o sistema previdenciário. Propostas de reforma administrativa voltaram à pauta, com ênfase na profissionalização dos quadros do INSS e no uso de tecnologia para prevenir fraudes.
Entidades como o Ipea e o Tribunal de Contas da União vêm defendendo auditorias permanentes e inteligência artificial para cruzar dados automaticamente. A digitalização total dos processos também é considerada fundamental para evitar fraudes.
Ademais, parlamentares discutem mecanismos para responsabilizar gestores públicos por omissão ou negligência grave. A ideia é garantir que ocupantes de cargos estratégicos respondam administrativa e judicialmente quando falhas graves forem comprovadas.
Apesar do cenário de crise, especialistas acreditam que o caso pode ser um ponto de inflexão para o INSS. Se bem conduzida, a resposta institucional pode fortalecer o órgão e recuperar a confiança dos cidadãos no sistema.