
- A Operação Carbono Oculto citou a Reag, que tem ações na B3 e R$ 299 bilhões sob gestão
- Receita Federal afirma que o PCC controlava ao menos 40 fundos de investimento com R$ 30 bilhões
- Fintechs e fundos lavavam dinheiro ilícito do setor de combustíveis e usavam os recursos para comprar usinas, caminhões e imóveis.
A Operação Carbono Oculto revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) infiltrou-se no coração do mercado financeiro brasileiro, utilizando fundos de investimentos e fintechs para lavar bilhões de reais oriundos de fraudes e adulterações no setor de combustíveis.
Entre as empresas citadas está a Reag Investimentos, que tem ações listadas na B3 e administra R$ 299 bilhões. A gestora, que também dá nome a um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo, passou a ser alvo de busca e apreensão na Avenida Faria Lima, nesta quinta-feira (28).
O que é a Reag e por que está no centro da operação
Fundada em 2012, a Reag se apresenta como a maior gestora independente do Brasil, sem ligação direta com bancos. Além de atuar no mercado financeiro, a empresa ganhou visibilidade por patrocinar o Belas Artes, que passou a se chamar REAG Belas Artes.
Seu balanço recente mostrou recuperação: de um prejuízo de R$ 2,1 milhões no primeiro trimestre de 2023, a gestora registrou lucro líquido de R$ 2,9 milhões em igual período de 2024. Assim, esse crescimento coincidiu com a fase em que a Receita Federal aponta maior movimentação ilícita nos fundos investigados.
Desse modo, segundo a investigação, a Reag teria ligação com estruturas usadas para blindagem patrimonial da facção criminosa, criando camadas de ocultação por meio de fundos de investimento fechados e controlados por cotistas únicos.
Como funcionava o esquema de lavagem do PCC
De acordo com a Receita Federal, o caminho do dinheiro começava no setor de combustíveis. Empresas formuladoras ligadas ao PCC importaram, entre 2020 e 2024, cerca de R$ 10 bilhões em hidrocarbonetos e diesel. Parte dessa operação foi acompanhada por fraudes fiscais, que resultaram em mais de R$ 8,6 bilhões em impostos sonegados.
Na prática, postos de combustíveis recebiam valores em espécie e em cartões, totalizando R$ 52 bilhões em apenas quatro anos. Além disso, esses recursos seguiam para fintechs criadas pela organização, incluindo uma que funcionava como “banco paralelo” e movimentou sozinha R$ 46 bilhões no período.
O dinheiro, uma vez inserido no sistema, era redirecionado para fundos multimercados e imobiliários, que financiavam a compra de ativos estratégicos. Portanto, a rede incluía terminais portuários, usinas de álcool, 1.600 caminhões de transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis de alto valor, como fazendas milionárias em São Paulo e residências em Trancoso (BA).
Impactos para o mercado financeiro e regulação
As revelações reforçam a preocupação com a vulnerabilidade do sistema financeiro brasileiro diante do crime organizado. A Receita Federal estima que os fundos controlados pelo PCC tenham patrimônio de R$ 30 bilhões, montante comparável ao de grandes gestoras tradicionais.
Ademais, o modelo complexo, com fundos fechados controlados por outros fundos e múltiplas fintechs, dificultou o rastreamento. Assim, recursos ilícitos circularam na economia formal com aparência legal.
Por fim, analistas afirmam que a operação deve aumentar a pressão por regras mais rígidas. O foco recai sobre transparência, governança e identificação de beneficiários finais.