
- Governo só usará recursos do Tesouro para ressarcir aposentados em último caso, diz ministro
- Fraudadores com bens de luxo no exterior serão alvo de ações para recuperar o dinheiro desviado
- Crise levou à demissão de chefes da Previdência e à articulação de CPI no Congresso
O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, afirmou nesta quinta-feira (28) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende utilizar imediatamente recursos do Tesouro Nacional para ressarcir aposentados vítimas de fraudes no INSS. Segundo ele, o governo buscará responsabilizar e confiscar os bens de fraudadores antes de recorrer ao dinheiro público.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, transmitido pelo CanalGov, Queiroz adotou um tom firme. Ele prometeu que o governo irá “às últimas consequências” para encontrar e confiscar os bens dos envolvidos no escândalo dos descontos indevidos aplicados às aposentadorias pagas pelo INSS.
“Tem gente que está com iate, com Ferrari, com Lamborghini, com dinheiro em paraísos fiscais. Nós vamos atrás dessas pessoas e desses recursos para devolver o que foi tirado dos aposentados”, afirmou.
Queiroz reforçou que o uso do Tesouro Nacional será uma medida extrema.
“Não é desejo do governo pegar agora dinheiro do Tesouro para ressarcir. Vamos tentar primeiro recuperar o que foi roubado. Só se for absolutamente necessário, o presidente Lula irá autorizar a compensação com recursos públicos. Mas ele não deixará que nenhum aposentado fique no prejuízo.”
Repercussão imediata
O escândalo de fraudes no INSS explodiu nos últimos meses, revelando uma rede de associações que realizaram descontos irregulares nas aposentadorias, sem o consentimento dos beneficiários.
A repercussão foi imediata e provocou uma crise dentro do governo federal, culminando na demissão de Alessandro Stefanutto, então presidente do INSS. Dias depois, Carlos Lupi também deixou o comando do Ministério da Previdência, sendo substituído por Queiroz, que ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta.
O caso, no entanto, gerou forte reação da oposição no Congresso. Parlamentares já articulam a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a extensão da fraude, o papel do governo federal na fiscalização das associações e as falhas nos mecanismos de controle do INSS.
O objetivo, contudo, é identificar os responsáveis e propor medidas de proteção aos beneficiários da Previdência. Além do ressarcimento, o governo planeja fortalecer os mecanismos de controle e transparência no INSS.
“Vamos criar uma nova sistemática para garantir que o aposentado só tenha desconto se autorizar expressamente. Vamos cortar o mal pela raiz”, declarou o ministro.
Credibilidade da Previdência
A situação exige ação rápida. Milhares de aposentados relataram perdas em seus benefícios mensais, muitos deles sem entender a origem dos descontos. A ausência de respostas claras até agora levou a um clima de desconfiança, que ameaça a credibilidade da Previdência Social.
Em um momento de tensão fiscal, com pressões crescentes sobre o orçamento da União, a decisão de não usar o Tesouro de forma imediata busca proteger as contas públicas, mas também demonstra a aposta política do governo em responsabilizar diretamente os fraudadores.
Ao prometer caçar bens de luxo no Brasil e no exterior, Wolney Queiroz, portanto, transforma a narrativa em uma questão de justiça e moralidade pública.
A condução do caso será decisiva para o governo Lula. A base aliada no Congresso precisa reagir com firmeza para evitar o desgaste político e garantir que o governo ou os responsáveis ressarçam as vítimas da fraude. Ainda que seja recuperando os recursos desviados ou, em último caso, fornecendo apoio direto do Estado.