
- Presidente enfrentou protestos em três momentos durante a Marcha dos Prefeitos em Brasília
- Presidente da CNM critica STF e exige mais atenção às pautas estruturantes dos municípios
- Lula tenta minimizar atritos com o ministro da Casa Civil após rumores de vazamento de informações
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentou uma recepção hostil na manhã desta terça-feira (21), durante a abertura da Marcha dos Prefeitos, em Brasília. A plateia, composta por milhares de prefeitos e autoridades municipais de todo o país, vaiou o chefe do Executivo em pelo menos três momentos. Dessa forma, revelando um cenário de desgaste político e cobrança direta por ações estruturantes.
O público vaiou Lula assim que ele entrou no palco, aumentou os protestos quando anunciaram seu discurso e voltou a vaiá-lo no encerramento, mesmo com apoiadores tentando aplaudir.
Alguns ministros presentes esboçaram reação para conter os protestos. Mas, o presidente preferiu ignorar as vaias e seguiu seu pronunciamento sem mencionar diretamente os gritos de desaprovação.
A Marcha dos Prefeitos é considerada o principal evento municipalista do país e, em 2024, reuniu mais de 14 mil participantes. Contudo, um número quase três vezes superior à quantidade de municípios brasileiros.
O tamanho do evento ampliou o impacto das vaias, que já haviam ocorrido no ano passado, mas desta vez vieram mais fortes.
Ziulkoski endurece o tom e cobra ações do governo
Durante a abertura do evento, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, subiu o tom contra o governo federal, especialmente contra a decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) de exigir mais transparência na liberação de emendas parlamentares.
“Abra o olho. Vamos votar pautas estruturantes”, disparou o ex-prefeito de Mariana Pimentel (RS), em tom crítico.
Para Ziulkoski, a medida do STF é um retrocesso e compromete a atuação de deputados, ao exigir explicações públicas para os projetos contemplados por emendas.
Lula não deixou a crítica sem resposta. Sem citar diretamente a ligação de Ziulkoski com a gestão de Jair Bolsonaro (PL), o presidente ironizou o dirigente da CNM:
“Hoje ele voltou a ser o velho Paulo Ziulkoski, com um discurso mais inflamado, mais contundente, como sempre deveria ser um representante dos prefeitos.”
Sombra da crise com Rui Costa
Outro ponto que pairou sobre o evento foi a recente crise envolvendo o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Lula aproveitou a ocasião para afagar o aliado político, a quem chamou de “o mais bem-sucedido governador da Bahia”.
A declaração soou como tentativa de apaziguar os ânimos após a turbulência criada pela fala da primeira-dama Janja da Silva durante viagem à China.
Rui Costa foi apontado nos bastidores como suposto responsável pelo vazamento da informação, o que teria irritado Lula profundamente. Embora o ministro não tenha comentado oficialmente o caso, teria classificado a situação como “traição” e “fogo amigo”. A menção elogiosa do presidente, portanto, serviu como sinal de que o Planalto busca conter o desgaste público e demonstrar unidade interna.
Ao lado de Lula estavam o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que observaram o clima tenso do encontro.
A presença das principais lideranças políticas do país, no entanto, não foi suficiente para abafar o mal-estar evidente entre o Executivo federal e os representantes municipais.