Crise Aérea

Voepass entra com pedido de recuperação judicial e atribui crise à Latam

A Voepass enfrenta dívidas, suspensão de voos e acusa a Latam por sua crise. A sobrevivência dependerá da aprovação judicial e da redefinição de sua estratégia.

Crédito: Depositphotos
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  • Voepass entra com pedido de recuperação judicial, alegando dívidas superiores a R$ 215 milhões.
  • Empresa atribui crise à inadimplência da Latam em acordos comerciais.
  • Anac suspende operações da Voepass por questões de segurança operacional.​

A Voepass protocolou pedido de recuperação judicial, alegando dívidas superiores a R$ 209 milhões. A empresa culpa a Latam por inadimplência contratual e enfrenta suspensão de voos pela Anac.

Reestruturação emergencial

A companhia aérea Voepass, com sede em Ribeirão Preto (SP), entrou oficialmente em recuperação judicial em 22 de abril. A medida visa impedir a falência após a empresa acumular dívidas que ultrapassam R$ 209 milhões. Essa decisão ocorre em meio a uma severa crise financeira que a companhia atribui, em grande parte, à sua relação comercial com a Latam Airlines.

De acordo com o processo apresentado à Justiça, a Voepass afirma que a Latam descumpriu obrigações contratuais significativas. Isso teria causado um colapso no fluxo de caixa da empresa, dificultando o cumprimento de compromissos com fornecedores, credores e funcionários. A Latam, segundo a Voepass, foi omissa em repasses financeiros e teria interferido diretamente na gestão operacional da parceira.

Ainda conforme os autos, a Latam chegou a concentrar 97% das vendas de bilhetes da Voepass, evidenciando uma dependência comercial elevada. Para a direção da Voepass, esse desequilíbrio de poder tornou a empresa vulnerável, contribuindo diretamente para o agravamento de sua situação.

A companhia destaca que buscou alternativas antes de recorrer à Justiça, mas sem sucesso. A recuperação judicial, portanto, tornou-se o único caminho possível para reestruturação financeira, enquanto tenta preservar empregos e manter parte de suas operações viáveis.

Suspensão de voos e impacto regulatório

Além das dificuldades financeiras, a Voepass enfrenta uma paralisação total de suas operações. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a suspensão dos voos da empresa por identificar falhas recorrentes em aspectos de segurança operacional. Segundo a Anac, essas irregularidades comprometeram a confiabilidade dos serviços prestados ao público.

A medida de suspensão, embora preventiva, agrava a crise da empresa. Sem poder voar, a Voepass perde receitas essenciais para sua sobrevivência, mesmo sob a proteção judicial. Além disso, a paralisação prejudica passageiros e compromissos comerciais em várias cidades do interior do país.

Fontes do setor afirmam que a Anac vinha monitorando a situação da Voepass há meses. A decisão de intervir ocorreu após fiscalizações apontarem não conformidades em rotinas de manutenção, treinamento de tripulação e documentação técnica.

O efeito imediato da suspensão foi o cancelamento de dezenas de voos regionais. Em resposta, a Voepass comunicou que está cooperando com a agência para resolver os problemas e retomar gradualmente as operações, caso o plano de recuperação seja aceito e implementado com êxito.

Histórico de dificuldades e cenário futuro

Esta não é a primeira vez que a Voepass recorre ao Judiciário em busca de reestruturação. Em 2012, ainda sob o nome Passaredo, a empresa também passou por recuperação judicial, com um passivo de R$ 100 milhões. O processo foi concluído em 2017, quando a companhia anunciou um plano de expansão, incluindo a compra da MAP Linhas Aéreas.

Entretanto, as promessas de crescimento sustentado não se concretizaram. A dependência da Latam, somada a dificuldades em manter regularidade operacional, prejudicou a estratégia de médio prazo. A crise global de suprimentos e o aumento do custo do querosene de aviação também pesaram no caixa da companhia.

Agora, com novo pedido judicial, a Voepass aposta na renegociação de dívidas e na revisão de contratos para tentar sobreviver. Fontes próximas à empresa indicam que uma das prioridades será buscar novos parceiros comerciais e diversificar canais de venda.

Apesar do momento delicado, analistas apontam que há espaço para companhias regionais no Brasil, especialmente em rotas de baixa densidade, onde grandes players têm menor presença. No entanto, será necessário transparência, controle rígido de custos e reposicionamento estratégico para a empresa reconquistar confiança.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.