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8.01.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, posa para foto com Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, durante foto com 70 funcionários da refinaria Abreu e Lima. Ipojuca - PE. Foto: Ricardo Stuckert / PR
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Petrobras e as perspectivas futuras sob intervenção política

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  • Demissão de Prates surpreende agentes financeiros e notícia é apresentada como desfavorável
  • Percepção de muitos, confirmam que a mudança na liderança é como estratégia do governo atual para intervir a política na estatal
  • Prates esteve em conflito com Alexandre Silveira e Rui Costa em questão de dividendos da petroleira

A demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras pelo presidente Lula na noite de terça-feira (14), surpreendeu os agentes do mercado financeiro. Os quais, geralmente interpretaram a notícia como desfavorável para o futuro da empresa.

Prevalece a percepção de que essa mudança na liderança visa aumentar a interferência política de Lula sobre a estatal. Uma pesquisa realizada no início do mês revelou que quase metade da população acredita que o presidente exerce esse tipo de pressão sobre a Petrobras.

Nomeado pelo presidente, Prates entrava em conflito público com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. No último episódio, Prates propôs distribuir dividendos extraordinários da Petrobras, enquanto o governo optou por reter os recursos para reforçar os investimentos da empresa.

Em abril, a Petrobras teve que “desmentir rumores sobre a demissão de Prates”, que circularam após uma série de notícias sugerirem uma mudança na liderança. Pouco antes, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciou uma investigação sobre informações relacionadas à Petrobras, devido aos comunicados que circulavam.

Apesar da “pressão inicial”, o clima de incerteza em torno da posição de Prates parecia ter diminuído nas últimas semanas.

“Ele (Prates) até levou isso numa boa e depois o assunto meio que se dissipou”, afirmou Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos.

“Fomos completamente pegos de surpresa com essa notícia agora”, complementa.

O economista, portanto, complementa que a decisão é “bastante negativa”.

“Primeiro porque traz uma falta de credibilidade, uma insegurança. E acho que é desnecessário, porque o Jean Paul Prates estava fazendo um trabalho bem razoável, é um cara bem ponderado, que vem do setor, que conhece o setor, que conhece a empresa”, confirma.

Implementação de diretrizes

Embora tenha implementado algumas das diretrizes sugeridas por Lula para a empresa, como a revisão da política de dividendos e o fim da política de preço de paridade de importação (PPI), Prates, portanto, também se esforçou para atender às demandas dos investidores. Um exemplo disso foi, contudo, sua proposta de distribuir uma parte dos dividendos extraordinários em vez de reter todo o valor, no entanto, para a política de investimentos da empresa.

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No entanto, entrou em conflito direto com Silveira e, consequentemente, com o governo, ao solicitar mudanças nas metas governamentais para a produção de biodiesel. Contudo, recusar-se a intervir no preço do querosene de aviação (QAV) para auxiliar as companhias aéreas e contradizer o ministro de Minas e Energia em relação à viabilidade de utilizar o gás natural do pré-sal que atualmente é reinjetado.

Outros argumentos

Nobre observa que Prates, durante sua gestão, conseguiu manter uma comunicação eficaz com o mercado, o Planalto, o Congresso Nacional e outros atores relevantes na governança da Petrobras.

“Ele tinha uma boa relação nesse aspecto, então eu vejo a sua saída como algo negativo”, diz Nobre.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, argumenta que embora Prates não tenha adotado uma abordagem totalmente alinhada com os princípios da economia de mercado, “ele serviu como um contrapeso contra uma interferência política excessiva” na empresa.

“É importante salientar que a gente tem visto nos últimos meses uma defasagem relevante no preço da gasolina, ou seja, o Prates não foi alguém que foi pró-mercado, que ficou totalmente isento de algum tipo de defesa sobre uma gestão mais política”, explica em seu comentário.

“Mas, de qualquer forma, foi entendido pelo presidente Lula e seus aliados que era necessário algo a mais, que gostariam de mais anúncios de investimentos, de mais geração de emprego direto da Petrobras”, complementa Gustavo.

Cruz ainda complementa, que já existiram outros tipos de tentativa de se fazer um interferência na Petrobras, mas que não obtiveram sucesso na prática.

“Existiram tentativas de se fazer uma interferência na Petrobras, mas diante de tudo o que aconteceu nos últimos 15 anos, não foi colocado tanto em prática”, avalia o estrategista.

As ações

Por volta das 12h30 da quarta-feira (15), as ações preferenciais da estatal registravam uma queda de 5,73% na B3. Enquanto as ações ordinárias, apresentavam retração de 6,73%.

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A XP Investimentos também comentou sobre a mudança repentina em seus relatórios. Afirmando, que esta adiciona significativa incerteza nos investimentos.

“Embora tenha sido previamente noticiado pela mídia que Prates teria sofrido pressão política solicitando sua substituição, a mudança repentina no CEO não era esperada neste momento”, afirma o relatório da XP Investimentos, assinado por Regis Cardoso e Helena Kelm, analistas de Óleo, Gás e Petroquímicos.

“A mudança repentina na gestão adiciona significativa incerteza ao caso de investimento e aumenta a percepção de risco dos investidores”, complementa.

O novo comando da petrolífera

Lula indicou Magda Chambriard, engenheira civil e ex-diretora-geral da ANP, para liderar a Petrobras, enquanto aguarda aprovação dos acionistas. Enquanto isso, Clarice Copetti, ex-vice-presidente da Caixa, assumirá interinamente, contando com a confiança do ministro Silveira.

Além de sua formação técnica, Chambriard possui um perfil com viés desenvolvimentista, favorecendo uma maior intervenção estatal na economia. Publicamente, já expressou apoio ao fortalecimento da indústria naval, à priorização do conteúdo local e à expansão do parque de refino da Petrobras.

“A gente tem possivelmente uma gestão conduzida um pouco mais pelo Poder Executivo, pelo Ministério [de Minas e Energia] e consequentemente pelo presidente Lula”, diz Alexandre Pletes.

“Imaginamos que a política de dividendos deve mudar e talvez até a política de preços, principalmente se o IPCA continuar pressionando.”

Em nota lançada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), também reforça suas expectativas no novo comando.

“Esperamos que a nova presidente ajude a cumprir o programa do presidente Lula, enfrentando os desafios que há junto ao mercado e a uma parte da corporação da Petrobras, que joga contra a implementação desse programa que foi aprovado pela população nas urnas”, afirmou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.

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