- Startup do Vale do Silício quer editar embriões humanos para evitar doenças genéticas
- Projeto atrai investidores bilionários, mas levanta sérias preocupações éticas e legais
- Especialistas alertam para riscos de eugenia, desigualdade genética e impactos sociais
Uma empresa de biotecnologia sediada no Vale do Silício está balançando os pilares da ciência e da ética ao propor a criação de “bebês sob medida” por meio da edição genética de embriões humanos. A Bootstrap Bio, nome que já vem chamando atenção entre investidores, está em busca de financiamento para iniciar testes pré-clínicos ainda em 2025. A promessa é ousada: eliminar doenças hereditárias antes mesmo do nascimento.
Segundo a empresa, o objetivo imediato é editar genes que causam doenças graves, como a fibrose cística e a distrofia muscular. A longo prazo, no entanto, a tecnologia pode abrir portas para modificações mais controversas — como características físicas ou cognitivas. A discussão que antes parecia distópica agora está mais próxima da realidade do que nunca.
Promessa científica ou ameaça ética?
A Bootstrap Bio afirma que sua missão é “corrigir mutações genéticas letais antes que causem sofrimento”. A técnica utilizada seria a CRISPR, famosa por permitir cortes precisos no DNA. A tecnologia, apesar de avançada, ainda é vista com cautela. Um dos grandes temores é a imprevisibilidade dos efeitos colaterais, que podem ser transmitidos a futuras gerações.
Além dos riscos técnicos, o debate esbarra em questões profundas. Para especialistas em bioética, como os professores Henry Greely (Stanford) e Laurie Zoloth (Chicago), o grande problema é que, ao permitir escolhas genéticas em embriões, corremos o risco de legitimar práticas eugênicas — selecionando seres humanos com base em preferências sociais ou estéticas.
Outro ponto crítico é o acesso desigual à tecnologia. “Se apenas os ricos puderem pagar por filhos com genes ‘melhorados’, criaremos uma nova forma de desigualdade biológica”, alertam pesquisadores.
Investidores bilionários e ambição sem limites
Mesmo com os alertas, a proposta da Bootstrap Bio atraiu atenção de figuras de peso no mundo dos investimentos. Fundos do Vale do Silício, acostumados a apostar em startups disruptivas, demonstraram interesse no projeto, apesar da polêmica. O discurso empresarial gira em torno da “melhoria da condição humana” e da “liberdade reprodutiva”, algo que divide opiniões até entre cientistas.
De forma estratégica, a empresa evita falar sobre a possibilidade de “melhoramentos não terapêuticos”, como aumento de inteligência ou atributos físicos desejados. Ainda assim, em relatórios internos e apresentações a investidores, menções à criação de “humanos mais adaptados” não são descartadas.
A legislação americana ainda não permite testes com embriões humanos que resultem em nascimento, mas a Bootstrap acredita que a pressão do mercado e os avanços tecnológicos podem levar a mudanças regulatórias nos próximos anos.
Estamos prontos para essa revolução?
A proposta da Bootstrap Bio escancara uma realidade: o futuro da reprodução humana está prestes a ser radicalmente transformado. O que antes era ficção científica está se materializando nos laboratórios de tecnologia mais avançados do mundo. E com isso, surgem dilemas morais que desafiam governos, universidades e a própria sociedade.
A possibilidade de impedir o sofrimento causado por doenças genéticas é real e sedutora. No entanto, a linha entre o que é cura e o que é manipulação se torna cada vez mais tênue. Entre a promessa de salvar vidas e o risco de criar uma elite geneticamente modificada, o debate precisa sair dos laboratórios e chegar à população.