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Arthur Lira, atual presidente da Câmara, recebe promessa de ministério pelo governo após término de mandato, fortalecendo relações políticas.
O governo brasileiro fez um gesto significativo de aproximação política ao prometer a Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, um ministério após o término de seu mandato.
A oferta foi apresentada durante uma reunião entre Lira e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Segundo informações apuradas pelo Valor, Lira não será deixado de lado após sua presidência, com a promessa de um cargo de ministro a partir de fevereiro de 2025, após a eleição de seu sucessor na Câmara.
Esse movimento é parte de uma estratégia de conciliação do governo, visando manter laços estreitos com Lira, que tem atuado como interlocutor para formalizar a entrada do PP e do Republicanos na base aliada. A oferta, no entanto, não especifica qual ministério Lira ocuparia e essa questão não foi discutida durante a reunião com o ministro Costa.
A promessa de um ministério para Lira em 2025 também tem sido usada como argumento pelo Partido Progressista (PP) para pressionar o governo a conceder um ministério de maior peso no presente momento ao líder do partido na Câmara, André Fufuca. A especulação é que Fufuca cederia espaço a Lira em 2025, embora não esteja definido qual ministério seria oferecido.
Enquanto o governo busca fortalecer alianças políticas, Lira, como uma figura central no cenário político, continua sendo um jogador importante na dinâmica governamental. Essa promessa de um ministério futuramente serve como um componente adicional nas complexas negociações e acordos entre os partidos e o governo.
Lula repete com Lira e o Centrão o que fez com o PMDB há 20 anos
Depois de quase cinco meses de tramitação, a Câmara dos Deputados aprovou, por 346 votos contra 92, o texto-base da reforma tributária em segundo turno. Não houve alterações em relação à votação de primeiro turno, apesar de o Palácio do Planalto ter negociado várias modificações na proposta desde que ela chegou à Cas-a.
Apesar da vitória, os próprios governistas avaliam que a reforma terá que passar por novas alterações no Senado.
Exceto pelo placar e pelo horário, o texto acima se encaixaria como uma luva, com um ajuste aqui e ali, para retratar o que vivenciamos na tarde do dia 07 julho de 2023. Na ocasião, o plenário da Câmara aprovou o segundo turno da Reforma Tributária e a enviou para o Senado.
Entretanto, o texto acima tem quase 20 anos. Para ser exato, ele foi publicado na Folha de São Paulo, no dia 25 de setembro de 2003, pelos jornalistas Fernanda Krakovics e Ranier Bragon, esse último ainda no front, pelo mesmo veículo.
Analogias.
As semelhanças não estão apenas na aprovação pela Câmara de um tema que sempre foi e será bastante árido. Há também analogias em outros fatos. Tanto em 2003 quanto em 2023, o governo Lula:
- Enfrenta resistências na agenda econômica dentro do próprio PT. Em 2003, o alvo era o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, a Reforma Tributária, a manutenção da CPMF, da DRU e a Reforma da Previdência dos servidores. Agora, o ministro Fernando Haddad, a Reforma Tributária do Consumo e o Marco Fiscal.
- O PT e sua coalizão não têm maioria na Cãmara e no Senado.
- Partidos de fora da coalizão pressionam por mais espaço. Em 2003, logo após as eleições presidências, Lula e o PMDB não chegaram a um acordo na composição ministerial. O PMDB tinha feito parte da chapa presidencial de José Serra (PSDB), derrotado no pleito. Em razão disso, o PMDB, que detinha uma das maiores bancadas nas duas Casas e considerado como um “partido âncora”, ficou com um espaço subdimensionado. Hoje, em 2023, o PMDB da vez é o Centrão, em especial o PP, o Republicanos e o União Brasil. No último pleito, o PP e o Republicanos apoiaram a campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PL). O União lançou a senadora Soraya Thronike. Os três partidos reivindicam acomodações e mais espaços no Lula 3, para garantir a governabilidade e maioria nas votações. Tais reinvindicações têm como principal articulador, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Aliança com adversários.
No primeiro mandato, Lula, que tinha José Dirceu como principal articulador, demorou mais tempo para ceder os espaços, para a turma do Centrão. A reforma ministerial ocorreu apenas em janeiro de 2004 com a entrada de Eunício Oliveira (PMDB-CE) no ministério da Comunicações e de Amir Lando (PMDB-RO) na Previdência. Eles faziam parte do “condomínio político” que estava em evidência naquela época. Entre os expoentes já figuravam: Michel Temer (presidente do partido), José Sarney (presidente do Senado), Renan Calheiros (AL) e Roméro Juca (RO). A dança das cadeiras de janeiro de 2004 atingiu seis ministros, grande parte representantes do PT e de partidos da esquerda como Cristovam Buarque (PT), Ricardo Berzoini (PT), Benedita da Silva (PT), Roberto Amaral (PSB) e Miro Teixeira (PDT). Ao fazer as mudanças Lula disse que se tratava de uma “tarefa dolorosa, mas necessária”.
Acertos de conveniência.
Hoje, o PP de Arthur Lira, tem na presidência o ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira. Ele até tem feito críticas ao atual governo, mas dentro dos “acertos de conveniência”, o PP tem avançado nos seus pleitos por mais cargos no atual governo.
Assim como em 2003, Lula tem sido pragmático. Para garantir o avançar das principais propostas da agenda econômica, o presidente começa a abrir espaços para atender ao grupo que esteve no lado oposto nas eleições de outubro, mas que pode ser o fiel da balança, na questão da governabilidade.
O primeiro passo foi com a confirmação, na sexta-feira (14) do deputado Celso Sabino como ministro do Turismo. Apesar de ele não ser do PP, mas do União Brasil, Sabino é muito próximo de Arthur Lira. Além de contar com o apoio da bancada da Câmara, ele pode ser considerado como da cota pessoal de Lira. Foi Sabino quem coordenou a primeira campanha do alagoano para a presidência da Câmara, em 2021. O deputado também esteve envolvido diretamente nas negociações das “emendas secretas” ou RP9, mecanismo pelo qual o Congresso passou a exercer um maior protagonismo no Orçamento da União e, consequentemente, no tabuleiro de Brasília.
Nos próximos meses, a dança das cadeiras também deve atingir outros ministérios. Na mira estão Esporte, Portos e Aeroportos e Desenvolvimento e Industria.
“Nós põe” (sic)
Quem olha de fora pode até achar estranho porque a turma do Centrão tem pressionado para indicar ministros para pastas como a do Turismo, que hoje conta com um dos menores orçamentos da Esplanada.
Em conversa com um parlamentar, ele me disse que essa questão também surgiu numa rodinha de deputados. A resposta de um dos presentes: “não tem problema, nós põe (sic)”.
Sim, por meio das emendas parlamentares, o ministério do Turismo pode ter o seu orçamento turbinado e dessa forma atender os congressistas na execução de emendas, nos respectivos redutos eleitorais.
Dessa forma, como muito pragmatismo na liberação de cargos e emendas, Lula vai abrindo caminho pelos labirintos de Brasília. A expectativa com as mudanças no desenho da Esplanada é que o governo passe a contar nos próximos meses com 330 deputados dos 513. Dessa forma, o presidente tem avançado, não no que quer, mas no que pode da agenda econômica.
E os primeiros resultados têm causado impacto no humor dos representantes do mercado financeiro que hoje, ao contrário de nove meses atrás, é mais favorável ao atual governo.
Vamos acompanhando.
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