Políticas protecionistas

Mais de 50% da indústria brasileira pode ser atingida por tarifas dos EUA

Medidas protecionistas dos EUA acendem sinal vermelho na indústria nacional, com exportadoras e fabricantes entre as mais afetadas.

Brasil-EUA
  • Mais da metade das indústrias brasileiras já sentem ou esperam impactos das tarifas impostas pelos EUA
  • Exportadoras que dependem de 10% a 50% das vendas externas são as mais atingidas
  • Alta nos custos de importação pressiona produtores de bens duráveis e ameaça cadeia produtiva

As políticas protecionistas dos Estados Unidos, intensificadas pela postura do presidente Donald Trump, atingem em cheio a indústria brasileira. Segundo uma pesquisa do FGV, mais da metade das empresas do setor já enfrentam ou acreditam que enfrentarão efeitos negativos das barreiras tarifárias impostas pelos norte-americanos. O cenário se agrava com novas ameaças vindas de Washington, que agora mira até a União Europeia.

A pesquisa, realizada entre 1º e 25 de abril com 830 indústrias brasileiras, revela que 12,2% das empresas do setor de transformação já sentem os impactos diretos das medidas adotadas pelos EUA. Outras 39,9% acreditam que devem ser afetadas em breve. Isso eleva para 52,1% o número de indústrias que já vivem sob o efeito ou sob o temor das restrições comerciais lideradas por Trump.

Os efeitos são ainda mais intensos entre as empresas que exportam de 10% a 50% do seu faturamento: 19,7% delas já foram atingidas, enquanto 60,4% projetam impactos futuros. O total nesse grupo chega a alarmantes 80,1%. Nessas empresas, o protecionismo americano não é uma ameaça abstrata, ele já interfere nos negócios, no planejamento e nos custos.

Bens intermediários

Setores estratégicos da economia brasileira, como os de bens intermediários e de capital, também demonstram forte vulnerabilidade. Mais da metade dessas empresas declara que sofrerá com o acirramento das disputas comerciais. A alta nas tarifas afeta diretamente os produtos brasileiros e altera as dinâmicas das cadeias produtivas internacionais.

“O risco vai além das exportações diretas. Muitas indústrias fornecem componentes para empresas exportadoras, então os impactos se espalham ao longo da cadeia produtiva”, alerta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A incerteza gerada pela guerra tarifária atinge até quem, teoricamente, não negocia diretamente com os EUA.

A recente ofensiva de Trump contra a União Europeia, com a proposta de uma tarifa de 50% a partir de junho (agora adiada para 9 de julho), acentuou ainda mais a desconfiança dos empresários. Apesar das tentativas de negociação entre EUA e China, a postura imprevisível da Casa Branca continua a gerar volatilidade global.

Stéfano Pacini, pesquisador do FGV Ibre, ressalta que o efeito mais imediato das medidas protecionistas é a deterioração da confiança empresarial.

“O temor sobre a abrangência das tarifas altera decisões de investimento e produção. Há ramos industriais que operam com cadeias complexas e longas, e qualquer ruptura gera efeitos em cascata.”

Custo de importação

O custo de importação também assusta. Segundo o levantamento, 37,8% das empresas apontam o aumento de preços dos insumos como uma das consequências mais graves. Para os fabricantes de bens de consumo duráveis, que dependem fortemente da importação de peças e componentes, a situação se torna crítica.

“Esses setores trabalham com margens apertadas e longos prazos de produção. A instabilidade no custo de partes importadas prejudica o planejamento e encarece o produto final”, explica Welber Barral, sócio da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior.

Com a incerteza se aprofundando e a guerra comercial dos EUA se expandindo, o impacto sobre a indústria brasileira pode ultrapassar os números atuais. Se as tensões se agravarem, o setor produtivo nacional terá de lidar com retração de exportações, aumento de custos e desorganização de cadeias logísticas, um golpe que compromete a competitividade do Brasil no cenário global.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.