Continua após o anúncio
Investidores que estão acostumados com o cotidiano no mercado de capitais nos últimos anos estavam a parte de uma prática comum do mercado: os IPOs.
O processo de listagem em bolsa (Initial Public Offering — IPO na sigla em inglês) é o momento mais aguardado por uma companhia desde a sua fundação. Afinal, ser listada em bolsa é o que podemos chamar de “ápice” para uma companhia e marca o momento em que a empresa se torna uma companhia pública.
No entanto, estar a mercê do mercado de capitais, apesar de representar a maior capacidade de captar investimentos, traz muitos desafios. Por isso, nem todas as companhias conseguem cumprir as expectativas de seus IPOs e acabam amargando quedas e mais quedas nos pregões das bolsas de valores.
Como o processo de IPO é um importante marco para um companhia, as companhias almejam este marco. Afinal, ser listada em Bolsa abre um gama de novas possibilidades para atração de recursos e de visibilidade para a empresa. Desse modo, fornecendo as ferramentas necessárias para expandir e reformular a estruturação de suas operações.
No entanto, em 2022 as ofertas públicas simplesmente “desapareceram do mercado”. O ano está se apresentando como o ano do risco no mercado de capitais. Afinal, além das expectativas ruins para o mercado, como as altas taxas de juros e o fato de 2022 ser um ano eleitoral, as empresas estão com medo de enfrentar a fúria do mercado de ações.
Os dados estão aí: somente nos primeiros 13 dias de Janeiro deste ano, cinco empresas abriram pedidos na CVM para adiar ou cancelar sua oferta pública de ações para se defender destes riscos.
Contudo, apesar de estarmos vivendo um ano “esteril” para novos IPOs, o cenário já não é o melhor para as estreantes da bolsa já há algum tempo.
A coisa está feia
Segundo levantamento da corretora Guide Investimentos, desde 2017, tivemos 86 IPOs na B3. Destes, apenas 18 apresentaram desempenho acima do Ibovespa e apenas 20 tiveram desempenho positivo (ação está acima do nível do IPO).
Em tempos de bull market, é normal ver um aumento no número de ofertas: a precificação é mais alta e isto aumenta o interesse das empresas em listar suas ações; além disso, o fluxo de investidores pra bolsa também gera uma busca maior por novas oportunidades de investimento.
Entre tantas ofertas, como imaginável, a qualidade das empresas apresentou uma maior variação, com empresas que nem lucro haviam obtido à época, e em sua maioria a preços acima do que havia sido considerado posteriormente como justo pelo mercado, sendo um exemplo do comportamento típico de momentos de euforia. Conforme as tabelas abaixo, os IPOs tiveram desempenho inferior ao do Ibovespa em sua maioria.
O único ano de exceção foi 2018, onde todas as empresas que fizeram IPO tiveram bom desempenho (2018 foi um ano particularmente ruim para a bolsa, com greve dos caminhoneiros e eleições deixando uma janela curta para ofertas). O oposto foi observado em 2020 e 2021: muitas empresas fizeram ofertas de ações, particularmente após o segundo semestre de 2020 quando as bolsas mundiais apresentaram forte alta impulsionadas por juros baixos e injeção de dinheiro por parte de diversos governos, mas o desempenho destas ofertas foi majoritariamente negativo:
Performaces de IPOs desde 2017
Ano | Nº de IPOs | Acima | Abaixo | Performance Anualizada vs. IBOV |
2017 | 9 | 2 | 7 | -9,0% |
2018 | 3 | 3 | 0 | 22,5% |
2019 | 5 | 2 | 3 | -14,4% |
2020 | 27 | 3 | 24 | -26,3% |
2021 | 42 | 8 | 34 | -25,5% |
86 | 18 | 68 |
A tabela abaixo mostra o desempenho dos 10 melhores IPOs desde 2017. Algumas empresas mais que dobraram de tamanho desde a estreia na Bolsa, mas o que chama atenção é que boa parte dos destaques positivos são de empresas de setores novos ou pequenos na B3, como Vamos (locação de veículos pesados), Intelbras (itens de segurança e painéis solares), Vittia (fertilizantes e insumos para o setor agrícola). Entre os motivos se deve a vantagem competitiva setorial que a empresa acaba criando quando passa a ser negociada em Bolsa, mas também pela dificuldade de comparabilidade entre seus pares de capital fechado.
Companhia | Ticker | Retorno |
---|---|---|
ENJU3 | Enjoei | -70% |
ESPA3 | EspaçoLaser | -69% |
MBLY3 | Mobly | -69% |
BRIT3 | Brisanet | -69% |
CLSA3 | ClearSale | -67% |
NINJ3 | GetNinjas | -66% |
ONCO3 | Oncoclínicas | -63% |
WEST3 | Westwing | -62% |
OPCT3 | OceanPact | -61% |
IFCM3 | Infracommerce | -60% |
Companhia | Ticker | Retorno |
---|---|---|
VAMO3 | Vamos | 71% |
RRRP3 | 3R Petroleum | 54% |
INTB3 | Intelbras | 50% |
VITT3 | Vittia | 39% |
GNDI3 | GNDI | 38% |
CBAV3 | CBA | 37% |
ORVR3 | Orizon | 35% |
BIDI4 | Banco Inter | 29% |
LWSA3 | Locaweb | 17% |
SBFG3 | Grupo SBF | 15% |
Follow @oguiainvestidor
DICA: Siga o nosso canal do Telegram para receber rapidamente notícias que impactam o mercado.