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O cenário de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos para 6% está gerando preocupações entre investidores e gestores de fundos de todo o mundo. Segundo fontes do mercado financeiro, o aumento da taxa básica nos EUA pode levar a uma queda na renda fixa no Brasil e em outros países.
As gestoras BlackRock e Schroders estão entre as empresas que estão debatendo o impacto que um aumento da taxa básica nos EUA para 6% pode ter sobre os investimentos. Até o final de fevereiro, os investidores de renda fixa, ações e nos mercados de câmbio ainda previam o fim de juros mais altos com apostas em um amplo rali no segundo semestre.
No entanto, o depoimento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na terça-feira (7), reforça as expectativas de um aumento maior dos juros neste mês. Os traders agora precificam a chamada taxa terminal em 5,6%, comparada à previsão de pico em 5% no fim do ano passado.
Com um mercado de trabalho aquecido e inflação persistente, Rick Rieder, diretor de investimentos de renda fixa global da BlackRock, afirmou em nota na terça-feira (7) que “achamos que há uma chance razoável de que o Fed tenha que levar a taxa dos fundos federais para 6%” e, depois, mantê-la nesse patamar por um período prolongado “para desacelerar a economia e reduzir a inflação para perto de 2%”.
Essas mensagens mais recentes do Federal Reserve preparam o cenário para o banco central retomar a dose de 0,5 ponto percentual e contrastam muito com a postura mais branda adotada por autoridades monetárias na Austrália e no Canadá. Também aumenta temores de um pouso forçado da economia dos EUA, já que o mercado de renda fixa telegrafa chances crescentes de uma recessão.
Os traders de swaps agora precificam um ponto percentual total em aumentos de juros nas próximas quatro reuniões do Fed. “Uma taxa terminal de 6% não está fora de questão agora”, disse Kellie Wood, vice-chefe de renda fixa da Schroders, na Austrália.
Como a alta dos juros americanos afeta o Brasil?
No Brasil, o aumento da taxa básica nos EUA pode levar a uma queda na renda fixa, que é a opção de investimento mais procurada pelos brasileiros. Isso porque, com a alta dos juros nos EUA, o país pode se tornar mais atrativo para os investidores estrangeiros, o que pode levar à saída de recursos do Brasil.
Segundo especialistas, a inversão da curva de juros ao longo das décadas antecipou recessões na esteira de ciclos de aperto monetário do Fed. “Não é nosso cenário-base, mas uma taxa dos ‘Fed Funds’ de 6% provavelmente resultaria em um dólar mais forte, um crescimento global mais fraco e, finalmente, uma queda nos ‘valuations’ de ativos de risco”, disse Mark Reade, chefe de pesquisa de renda fixa da Mizuho Securities Asia.
O cenário de aumento dos juros nos Estados Unidos pode impactar fortemente o mercado financeiro brasileiro, em especial o de renda fixa. Isso porque muitos investidores estrangeiros que aplicam em títulos públicos e privados brasileiros podem optar por migrar seus recursos para outros países em busca de retornos mais atrativos.
De acordo com especialistas, a taxa de juros americana em patamares mais elevados pode atrair investidores em busca de rendimentos mais altos, sobretudo em países emergentes. Com isso, a tendência é que haja uma saída de recursos do Brasil, o que pode pressionar o dólar e aumentar os juros internos.
Segundo Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, uma alta de juros nos EUA pode fazer com que investidores reduzam a exposição a títulos de dívida de países emergentes, como o Brasil, e migrem para ativos de países desenvolvidos. “Com a perspectiva de juros mais altos nos EUA, é possível que haja uma realocação de recursos, o que pode pressionar o câmbio e aumentar os juros internos”, explica.
Além disso, a tendência é que empresas brasileiras que possuem dívidas em dólar enfrentem um aumento nos custos de financiamento, uma vez que a valorização da moeda americana pode tornar essas dívidas mais caras. “Se a taxa de juros nos EUA continuar subindo, isso pode ter um impacto significativo nas empresas brasileiras que precisam financiar suas operações com dívida em dólar”, alerta Velho.
Outro fator que pode ser afetado é o mercado de ações. Com a possibilidade de migração de investimentos para os EUA, é possível que haja uma queda nos preços dos ativos negociados na Bolsa brasileira, uma vez que investidores estrangeiros podem reduzir suas posições em ações brasileiras.
Apesar dos possíveis impactos, alguns analistas acreditam que a alta de juros nos EUA pode ser benéfica para o Brasil a longo prazo, uma vez que pode levar o país a adotar medidas de ajuste fiscal e monetário, além de estimular investimentos em infraestrutura e em setores produtivos.
Para Eduardo Velho, no entanto, é preciso cautela. “A alta dos juros nos EUA é um sinal de que a economia americana está em expansão, o que é positivo para o mundo como um todo. No entanto, é importante lembrar que essa elevação pode trazer volatilidade para os mercados e afetar negativamente a economia brasileira no curto prazo”, conclui o economista.
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