
O Bradesco (BBDC4) ultrapassou o Banco do Brasil (BBAS3) em valor de mercado na B3. O levantamento do Broadcast, feito com base nos dados da última quarta-feira (21), mostra que o banco público valia R$ 144,8 bilhões, enquanto o Bradesco atingia R$ 152,5 bilhões.
Essa é a primeira vez em sete meses que isso acontece.
O movimento reflete não apenas os números do primeiro trimestre de 2025, mas principalmente a leitura feita pelos investidores sobre o presente e o futuro de cada banco.
Enquanto o Bradesco colhe os frutos de sua reestruturação, o Banco do Brasil enfrenta um momento de maior incerteza, especialmente após colocar parte de suas projeções financeiras sob revisão.
Mercado muda de postura sobre BB e Bradesco
Após a divulgação do balanço do BB, o BTG Pactual rebaixou a recomendação das ações de “compra” para “neutra”, e cortou o preço-alvo de R$ 34,00 para R$ 30,00.
Já o Citi, que já tinha uma posição neutra, ajustou ainda mais para baixo, reduzindo a projeção de R$ 30,00 para R$ 27,00.
Ambas as instituições também diminuíram suas estimativas de lucro para o banco ao incorporar o impacto das novas normas contábeis e o cenário mais desafiador para o crédito agropecuário.
“O que talvez seja o ponto de maior preocupação é a incerteza implícita sobre variáveis importantes, uma vez que a direção do banco decidiu revisar o guidance para o status ‘sob revisão’ em margem financeira, custo de risco e lucro líquido”, destacou o Citi.
Já o Bradesco surpreendeu positivamente. Segundo o Bank of America, o banco privado superou em 8% a expectativa de lucro líquido e entregou um ROE (retorno sobre patrimônio líquido) de 14,4%, um ponto percentual acima do esperado. “O plano de reestruturação, lançado há um ano, começa a mostrar efeitos estruturais positivos”, afirmaram os analistas.
Indicadores de mercado refletem a nova percepção
A mudança de percepção também apareceu nos múltiplos das ações: o Bradesco voltou a ser negociado acima de 1 vez o valor patrimonial, enquanto o BB, que estava próximo desse patamar, viu seus múltiplos recuarem nos últimos dias.
Apesar disso, a rentabilidade do BB ainda se destaca: mesmo com a queda no trimestre, o ROE da instituição pública foi de 16,7%, acima do custo de capital e superior ao do Bradesco. Porém, o que pesa mais para os investidores são as expectativas para os próximos trimestres.
Segundo o vice-presidente de Gestão Financeira do BB, Geovanne Tobias, o segundo trimestre também será desafiador, mas o banco não deve voltar aos níveis de ROE do passado: “Não vamos voltar àquele ROE de 12%, 13% que vimos lá atrás. O BB de hoje é completamente diferente daquele BB”.
Nova regra contábil pesa no crédito agro e derruba receita
Parte da pressão sobre o BB veio da implementação da resolução 4.966 do CMN, que alterou a forma como os bancos contabilizam provisões para perdas.
O novo modelo — baseado em perdas esperadas — exige provisões mesmo para créditos ainda adimplentes, caso o risco de calote aumente.
Isso afetou especialmente o crédito rural, que responde por uma fatia relevante da carteira do BB.
De acordo com a própria instituição, o banco deixou de reconhecer cerca de R$ 1 bilhão em receitas no primeiro trimestre por causa da nova norma.
Em alguns casos, empréstimos ainda em dia foram classificados no estágio 3, o de maior risco, devido a renegociações e pedidos de recuperação judicial de produtores rurais.
“O segmento agro é muito particular, com pagamentos concentrados em uma única parcela e prazos mais longos. A nova norma acaba penalizando isso”, comenta o BTG Pactual.
A presidente do BB, Tarciana Medeiros, admitiu em teleconferência que a revisão do guidance não foi uma decisão fácil: “Mas acredito que seja a mais coerente com o compromisso de transparência que temos adotado desde o início da gestão”.
O banco afirmou ainda que levará ao Banco Central uma proposta para que o crédito agro tenha tratamento diferenciado na aplicação das novas regras contábeis — uma medida que pode ser decisiva para reequilibrar as projeções futuras e reconquistar a confiança do mercado.