Câmbio

Dólar na casa dos R$ 5,50 até quando? Analistas avaliam o que moldam a nova fase do câmbio

Especialistas apontam que o movimento não é só mérito do real, mas consequência direta de um enfraquecimento global da moeda americana

Dólar
Foto: iStock

O dólar tem enfrentado uma sequência de desvalorizações nas últimas semanas, atingindo o menor patamar desde outubro. E, apesar de parecer uma boa notícia para o Brasil — um real valorizado ajuda a conter a inflação, por exemplo —, analistas alertam que a tendência tem mais a ver com o enfraquecimento da moeda norte-americana do que com uma valorização expressiva da moeda brasileira.

Nesta segunda-feira (16), o dólar atingiu a casa dos R$ 5,509, com uma desvalorização de 0,59%, por volta das 13:30.

Com esse patamar, nem parece que no fim de 2024, a moeda atingiu R$ 7, diante da reação exagerada ao pacote fiscal apresentado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Naquele cenário, bancos e casas de análises chegaram a projetar o dólar próximo dos R$ 8,00 até 2027. Atualmente, BTG Pactual projeta dólar a R$ 5,60 em 2025, enquanto o Itaú BBA mantém uma visão mais conservadora, esperando R$ 5,75 nos próximos dois anos.

Mas o que impacta nessa nova cotação e na mudança de visão do mercado? Confira a seguir:

Dólar fraco no mundo todo

Além das turbulências domésticas, o dólar tem perdido força globalmente, principalmente por conta da política econômica imprevisível dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump.

A chamada “guerra tarifária” instaurada pelo republicano, aliada a um desejo declarado de enfraquecer o dólar para beneficiar a indústria local, tem reduzido a atratividade da moeda como porto seguro.

O reflexo pode ser visto no índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas fortes. Em 2025, o índice já acumula queda de 9%. No mesmo período, o real se valorizou cerca de 10%.

Real ganha tração com petróleo e juros

Internamente, o real tem sido favorecido por três fatores principais: preços do petróleo em alta, diferencial de juros atrativo e menor pressão cambial após a tempestade fiscal do fim de 2024.

“O Brasil é exportador de petróleo, e com a commodity subindo 7,6% em dólar, isso dá um impulso ao real”, explica Álvaro Frasson, estrategista do BTG Pactual.

Gustavo Sung, da Suno Research, lembra que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue elevado, atraindo capital estrangeiro, especialmente com o fim do ciclo de alta de juros no radar.

O que pode frear a queda?

Apesar da maré favorável, há riscos que podem reverter a tendência. O principal é o fiscal brasileiro.

O governo está prestes a apresentar uma nova Medida Provisória para compensar a revogação parcial do decreto do IOF. Se a negociação entre Executivo e Legislativo travar, o mercado pode reagir negativamente — e o câmbio sentir o impacto.

“Se conseguirmos aproveitar a janela do 3º trimestre para avançar com medidas estruturais, o dólar pode cair ainda mais, até abaixo dos R$ 5,50”, diz Sung.

Outro fator de alerta é o início precoce do debate eleitoral de 2026. “Se as eleições começarem a contaminar o ambiente, o dólar vai responder. E aí não será mais possível explicar o movimento apenas por fundamentos econômicos”, alerta Frasson.

Aposta dos gestores: real valorizado, dólar vendido

A divisão entre gestores é clara: grandes casas como Verde, Kapitalo e Gauss estão compradas em real, enquanto Itaú Optimus, ASA e Armor apostam na desvalorização da moeda brasileira. Mas há um consenso mais amplo: o dólar deve continuar perdendo força.

“Não há confiança nas políticas americanas atuais. O dólar está fraco contra todas as moedas emergentes”, reforça Frasson.

E mesmo com um possível acordo comercial entre China e EUA sendo ventilado — o “Acordo de Genebra” —, a incerteza permanece.

“Não acho que isso fortaleça o dólar neste momento”, diz Alexandre Pletes, da Faz Capital. “A reindustrialização dos EUA exige investimentos internos pesados, o que é difícil com um dólar caro.”

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.