
A JBS (JBSS3) estreia nesta sexta-feira (13) na Bolsa de Nova York, dando início a uma nova fase de sua trajetória. Mas o que motiva a ida da maior processadora de carnes do mundo para o mercado de ações americano?
Com valor de mercado estimado em US$ 15,2 bilhões, a gigante brasileira liderada pelos irmãos Wesley e Joesley Batista busca deixar para trás um passado de corrupção e polêmicas ambientais, mirando agora o topo do setor de alimentos processados com uma estrutura mais robusta e acesso facilitado a capital global.
“Existe uma diferença entre ser uma empresa listada nos EUA e uma companhia de mercado emergente — são categorias distintas”, afirmou Benjamin Theurer, analista do Barclays.
A maior do mundo
Fundada a partir de um pequeno frigorífico familiar, a JBS se transformou em potência global com uma agressiva estratégia de aquisições, especialmente após seu IPO no Brasil em 2007.
Em apenas três anos, abocanhou marcas como Swift, Smithfield Foods, Pilgrim’s Pride, e mais tarde a Cargill e a Moy Park.
Hoje, a empresa atua em seis continentes, com produtos que vão de carne bovina nos EUA a alimentos vegetais na Europa e salmão na Austrália.
Escândalos e redenção
O apogeu da JBS foi abruptamente interrompido em 2017, quando os irmãos Batista confessaram o pagamento de propinas a centenas de políticos, inclusive com implicações para o então presidente Michel Temer.
O episódio, que provocou o “Joesley Day” — um dos maiores tombos da bolsa brasileira — levou os empresários à prisão e ao centro de uma crise institucional no país.
Eles foram afastados da gestão, e a empresa enfrentou processos por corrupção internacional. A holding dos irmãos admitiu culpa e aceitou pagar US$ 256 milhões em multas à Justiça americana.
Agora, reabilitados judicialmente, os irmãos retornaram ao conselho em 2024 e, com a listagem em Nova York, recuperam também o controle majoritário da empresa.
Uma reestruturação societária garante a eles 85% do poder de voto, mesmo com participação acionária menor — modelo semelhante ao usado por gigantes como Meta e Alphabet.
Governança na JBS
A listagem foi aprovada por margem apertada entre minoritários, e grupos de governança corporativa, como a Glass Lewis, recomendaram voto contrário, citando “histórico de escândalos” e riscos reputacionais.
A JBS, por sua vez, afirma ter implementado um programa global de compliance, com conselho majoritariamente independente, comitês autônomos e políticas anticorrupção rigorosas.
“A JBS opera com forte foco em integridade, transparência e geração de valor de longo prazo”, disse a empresa em nota.
Próximo passo: alimentos de marca e margens maiores
A entrada na bolsa americana deve impulsionar a nova estratégia da JBS: crescer em alimentos processados de maior valor agregado, como salsichas, linguiças e refeições prontas.
Com isso, a empresa quer reduzir a volatilidade de um setor ainda dominado por commodities.
Negociações recentes com empresas como Oscar Mayer e interesse declarado em nomes como Hormel Foods revelam a ambição dos irmãos Batista.
“Com a listagem, esperamos que a JBS busque crescer organicamente e via aquisições estratégicas, aproveitando sua nova flexibilidade para captação de recursos”, escreveu a analista Renata Cabral, do Citigroup.
A aposta: reprecificação e expansão
Analistas projetam que a listagem possa reduzir o desconto com que as ações da JBS são negociadas, aproximando seus múltiplos dos de concorrentes como Tyson Foods. Hoje, a JBS vale 5,1 vezes o lucro estimado, contra 7,7 vezes da Tyson.
Com lucro recorde projetado para 2025 (US$ 84 bilhões), queda da dívida e ações perto das máximas históricas, a empresa chega à Wall Street com indicadores sólidos — mas o teste de confiança será rigoroso.