A Raízen (RAIZ4) — uma joint venture entre Cosan (CSAN3) e Shell — anunciou a venda da sua usina em Leme (SP) por R$ 425 milhões, dando o primeiro passo de uma estratégia mais ampla de “reciclagem de ativos”.
O desinvestimento acontece em um ambiente de juros elevados e com uma dívida crescente.
A princípio, esse negócio envolve a Ferrari Agroindústria e a Agromen Sementes Agrícolas, que pagarão o montante pela estrutura com capacidade instalada de 1,8 milhão de toneladas de cana por safra.
O valor equivale a R$ 236,11 por tonelada de capacidade, além de cerca de 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar envolvidas na transação.
A operação ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas deixa claro o novo direcionamento da Raízen: vender ativos que não se alinham ao foco estratégico da companhia, reduzir o endividamento e reforçar sua eficiência operacional.
O plano da Raízen
A decisão da Raízen não vem do nada. Desde o fim de 2023, rumores de venda de ativos não estratégicos – como usinas solares e unidades de menor escala – vêm circulando no mercado.
A empresa confirmou que está “constantemente avaliando oportunidades de alienação de ativos que não têm sinergia direta com o seu core business”, que inclui essencialmente produção de açúcar, etanol e distribuição de combustíveis.
Essa não é uma simples venda de oportunidade: é parte de um plano de reposicionamento estratégico.
Segundo a companhia, a prioridade está em manter usinas com potencial de investimento em etanol de segunda geração (E2G), uma frente com alto valor agregado e potencial de diferenciação no mercado global de bioenergia.
O que mais vem por aí?
Além da usina de Leme, a Raízen já paralisou a unidade MB, em Morro Agudo (SP), e anunciou a venda de 900 mil toneladas de cana à Alta Mogiana por R$ 381 milhões.
O ex-CEO Ricardo Mussa foi claro: “Venda de ativos é uma super prioridade. O mercado pode esperar outras novidades.”
A companhia também colocou em avaliação a venda de três fábricas no Mato Grosso do Sul e estuda alienar sua operação de distribuição de combustível para aviação, em um movimento que pode gerar bilhões e aliviar ainda mais a pressão financeira.
Por trás da decisão: juros, dívida e eficiência
Os juros no Brasil continuam elevados (14,25%), e o custo de capital pressiona o setor produtivo.
A Raízen acumulou dívidas relevantes em meio ao seu processo de expansão e diversificação – e agora busca reestruturar a casa antes de dar novos passos.
O objetivo é claro: focar nos ativos mais rentáveis, com sinergia operacional e potencial de inovação, como as usinas que já operam (ou têm projeto) com E2G. Hoje, são 33 usinas no portfólio – número que já exclui a Leme.
Destas, quatro têm estrutura para etanol de segunda geração: Bonfim, Univalem, Barra e Costa Pinto (atualmente paralisada).