
- Ações da BYD caem 8,6% após novos cortes de preços na China, reacendendo a guerra de preços entre montadoras de elétricos.
- Reduções chegam a 30% em modelos de entrada, enquanto marcas premium do grupo permanecem com valores inalterados.
- Meta de vender 5,5 milhões de carros em 2025 pressiona margens e aumenta o risco de nova instabilidade no setor chinês.
Nesta segunda-feira (26), as ações da BYD recuaram 8,6% na Bolsa de Hong Kong. O motivo foi o anúncio de novos descontos expressivos em sua linha de veículos elétricos de entrada na China. A estratégia, vista como resposta à desaceleração da demanda interna, acendeu um sinal de alerta entre investidores e outras montadoras.
As reduções de preço variam entre 10% e 30% e valem para os modelos mais populares. O hatch compacto Seagull, por exemplo, ficou 20% mais barato. O valor caiu de 69.800 yuans para 55.800 yuans. Já as marcas premium do grupo, como Denza, FangChengBao e Yangwang, não foram incluídas nessa fase da campanha.
Pressão no setor cresce
A movimentação da BYD gerou reações em cadeia no mercado. Montadoras como Geely Auto, Leapmotor e IM Motors também viram suas ações despencarem — em alguns casos, mais de 9%. Além disso, começaram a anunciar seus próprios pacotes de descontos. Essa resposta mostra que a competição por espaço no mercado chinês está longe de esfriar.
O cenário atual é reflexo direto da alta nos estoques. Concessionárias estariam com grandes volumes parados, o que forçou a montadora a acelerar as promoções. Embora seja uma estratégia comum em tempos de desaceleração, os cortes sugerem que a BYD está mais disposta a sacrificar parte de sua margem de lucro para manter participação de mercado.
Com estrutura altamente verticalizada e produção própria de baterias, a BYD consegue operar com custos inferiores aos da maioria dos concorrentes. Essa vantagem competitiva permite mais flexibilidade nos preços — o que, por outro lado, acirra a pressão sobre empresas que ainda não são lucrativas.
Tesla e a resposta global
Embora a Tesla não tenha feito ajustes de preços imediatos em solo chinês, a companhia americana já vinha aplicando incentivos financeiros desde o início de 2023. A nova rodada da guerra de preços na China pode forçar Elon Musk a recalibrar a estratégia da Tesla para manter a atratividade no maior mercado de elétricos do mundo.
No início do ano, a BYD também surpreendeu ao incluir gratuitamente sistemas avançados de assistência à direção (ADAS) em todos os seus modelos. Isso ampliou ainda mais a pressão sobre rivais que apostam em softwares como fonte extra de receita — como é o caso do pacote Full-Self Driving da Tesla.
As mudanças não afetam diretamente os mercados internacionais, onde os preços da BYD continuam mais altos. No entanto, ao manter margens maiores fora da China, a montadora tenta equilibrar os efeitos negativos dos cortes domésticos.
Metas ambiciosas e riscos no horizonte
Por trás da decisão está uma meta ousada: a BYD quer vender 5,5 milhões de veículos em 2025, ante os 4 milhões de 2024. Para atingir esse número, a companhia aposta no volume, mesmo com margens mais apertadas.
Analistas alertam que essa nova rodada de descontos pode inaugurar um novo ciclo de instabilidade para o setor automotivo chinês. Além da pressão por vendas, há incertezas regulatórias e crescente competição internacional, sobretudo com as investigações da União Europeia sobre subsídios às montadoras chinesas.
Se o movimento da BYD se espalhar, os consumidores podem se beneficiar com preços mais baixos. Contudo, os efeitos sobre a lucratividade e a sustentabilidade financeira das empresas ainda são incertos.