
Uma disputa política esquenta nos corredores do Senado Federal e coloca em lados opostos o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), e senadores que querem investigar a fundo a situação financeira dos Correios. O motivo? Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta para apurar o prejuízo bilionário acumulado pela estatal nos últimos anos. Segundo informações de bastidores, Alcolumbre estaria atuando diretamente para barrar a criação dessa CPI.
Fontes dentro do próprio Senado, incluindo um líder da base governista consultado pelo site Oeste, confirmam que o presidente da Casa pediu a aliados para não assinarem o requerimento que pede a abertura da investigação, apresentado pelo senador Márcio Bittar (União-AC). Mesmo com o pedido já protocolado formalmente em fevereiro, com 32 assinaturas (cinco a mais que as 27 necessárias), a estratégia de Alcolumbre seria simplesmente ignorar o requerimento, evitando fazer a leitura oficial em plenário que autorizaria a instalação da CPI. “Não há vontade política sobre a leitura desse requerimento”, afirmou o líder governista, indicando que o documento deve permanecer engavetado.
Mas o que estaria por trás dessa manobra? As atenções se voltam para a recente indicação de Hilton Rogério Maia Cardoso para a diretoria de negócios dos Correios. Cardoso é considerado um apadrinhado político de Davi Alcolumbre e assumiu o posto, descrito por fontes do Senado como uma área “que tem grana”, em 14 de março. Antes disso, ele ocupava o cargo de superintendente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Amapá, estado que é o reduto eleitoral de Alcolumbre. A nomeação levanta suspeitas sobre um possível interesse em blindar a nova diretoria de investigações.
Apesar da pressão contrária, o senador Márcio Bittar conseguiu coletar as 32 assinaturas necessárias, superando o mínimo regimental. Agora, a instalação da CPI depende unicamente da leitura do requerimento por Alcolumbre, ato que ele estaria evitando. A articulação para frear a investigação parece ter surtido algum efeito: a senadora Soraya Thronicke (Pode-MS) retirou sua assinatura do pedido, um recuo que, segundo o mesmo líder de bancada ouvido, teria ocorrido por influência direta do presidente do Senado.
Diante do impasse, a equipe do senador Márcio Bittar já sinaliza o próximo passo: recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para obrigar a instalação da CPI. A estratégia é a mesma utilizada por parlamentares de esquerda durante o governo de Jair Bolsonaro para forçar a criação da CPI da Covid, transformando o Judiciário em árbitro da disputa política no Legislativo.
Enquanto a briga política acontece, os números dos Correios mostram a urgência da situação. A estatal fechou o ano de 2023 com um prejuízo de quase R$ 600 milhões, seguindo um rombo de quase R$ 770 milhões em 2022. A receita da empresa também caiu, passando de R$ 22 bilhões para R$ 21,6 bilhões entre 2022 e 2023. Embora as despesas tenham sido ligeiramente reduzidas, a situação piorou drasticamente em 2024. Apenas no primeiro semestre deste ano, os Correios acumularam um prejuízo impressionante de R$ 1,35 bilhão. Esse valor representa um aumento de quase 85% em comparação com o rombo registrado no mesmo período de 2023 (R$ 735 milhões), acendendo um alerta vermelho sobre a gestão da empresa e aumentando a pressão por uma investigação parlamentar.